
Em um movimento surpreendente, a família Dubrule anunciou sua intenção de adquirir o controle da Mobly. Após perderem para a gestora SPX na disputa sobre o futuro da Tok&Stok no ano passado, na proposta da Dubrule, a família declarou estar dispostos a pagar metade do valor de mercado da empresa.
“É uma oferta inviável. Acho que nunca aconteceu na história brasileira uma proposta a 50% do preço de tela e sem um racional para esse valor”, diz Victor Noda, CEO, cofundador e conselheiro da Mobly, ao Pipeline.
“A ação da Mobly nunca foi negociada abaixo de R$ 1,30. O último PL estava na casa R$ 400 milhões, que foi o mesmo valuation da transação com a Tok&Stok”, complementa o CEO.
Os fundadores da marca enviaram uma carta ao conselho de administração da Mobly na última sexta-feira (28).
O documento, assinado por Régis Edouard Alain Dubrule, Ghislaine Thérèse de Vaulx Dubrule e Paul Jean Marie Dubrule, declara que o objetivo é adquirir o controle da Mobly, com a possibilidade de adquirir até 100% das ações da empresa.
A oferta pública de ações (OPA) proposta pelos Dubrule envolve a compra de todas as ações da Mobly (122.763.403), ao preço de R$ 0,68 por ação. Esse valor representa um desconto de 51% em relação ao fechamento de R$ 1,35 do papel na última sexta-feira. Se concretizada, a operação totalizaria aproximadamente R$ 83,4 milhões.
“Os potenciais ofertantes têm a convicção de que o sucesso da OPA beneficiará a Mobly, a Tok&Stok e todos os stakeholders das referidas companhias — inclusive os atuais acionistas que optarem por vender suas ações no leilão da OPA, assegurando-lhes liquidez ao seu investimento”, afirmam os interessados.
Mobly e Tok&Stok: desafio do novo gigante do setor de móveis
Em agosto de 2024, a Mobly selou um acordo com a gestora SPX, controladora da Tok&Stok, para assumir o controle da empresa. A fusão criou um grande nome no mercado de móveis e decoração, com receitas anuais estimadas em R$ 1,6 bilhão. Porém, a família fundadora da Tok&Stok não aceitou bem o negócio e contestou a operação judicialmente.
Régis Dubrule, fundador da Tok&Stok junto com sua esposa Ghislaine em 1978, criticou duramente a fusão. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele afirmou: “É o abraço de afogados, mas sabemos nadar. Estamos absolutamente convencidos de que podemos salvar a Tok&Stok sozinhos, sem depender da Mobly.”
Para evitar que a Mobly se envolvesse nas dívidas da Tok&Stok, foi criado um modelo financeiro complexo. Simultaneamente ao acordo, a Tok&Stok solicitou recuperação extrajudicial, com um pré-acordo com credores que incluiu um ano de carência para o pagamento de juros e dois anos para o início das amortizações. O prazo final de pagamento foi estendido até 2034, em vez de 2029.
A Tok&Stok, que já foi avaliada em R$ 1,1 bilhão, foi negociada por apenas 10% desse valor, ou seja, R$ 112 milhões, no acordo.
A empresa ainda não divulgou os resultados do quarto trimestre de 2024, mas os números mais recentes, do terceiro trimestre, indicaram uma pequena melhora nas vendas das lojas físicas, embora o ecommerce continue enfrentando desafios. O negócio ainda registra prejuízo.
Neste ano, as ações da companhia acumulam queda de 12%. Um dos maiores desafios apontados pelo relatório do Goldman Sachs, de novembro, é evitar a queima de caixa, o que poderia exigir mais capital.