O governo de Donald Trump iniciou uma revisão de contratos bilionários com grandes empresas de consultoria, levantando questionamentos sobre o real valor entregue por essas firmas ao contribuinte.
A General Services Administration (GSA), órgão responsável pela gestão dos contratos públicos federais, foi encarregada de revisar os acordos com gigantes como Deloitte, Accenture e outras oito consultorias que recebem bilhões do orçamento federal. Essa ação gerou grande inquietação nas sedes dessas empresas, que agora temem mudanças substanciais em seus contratos com o governo.
Em artigo do Roberto Valverde, Conselheiro, M&A Advisor e Empreendedor, publicado em uma de suas redes sociais, afirma que essa revisão é uma resposta direta à ineficiência percebida nos serviços prestados por algumas dessas consultorias.
O especialista destaca, em seu texto, que a administração de Donald Trump, por meio do Departamento de Government Efficiency (DOGE), comandado por Elon Musk, está decidida a cortar contratos considerados “inúteis”, aqueles que, muitas vezes, se limitam a entregar relatórios superficiais, como apresentações de PowerPoint que não acrescentam valor real aos projetos.
“Se sua consultoria fatura bilhões do governo, mas entrega um slide bonito e um relatório óbvio, é bom já ir atualizando o LinkedIn”, afirma Valverde, destacando a pressão que essas empresas enfrentam para justificar seus custos elevados.
O impacto dessa revisão nas consultorias é considerável. Para empresas como Deloitte e Accenture, que dependem dos contratos com o governo para uma parte significativa de sua receita, qualquer corte pode ser devastador.
“Na Accenture, já cortaram o ‘tempo na bench’ — se você não estiver alocado em um projeto, já pode preparar as malas”, alerta o especialista.
Embora a Deloitte ainda não tenha alterado oficialmente sua política, Valverde observa que os consultores da empresa já começam a falar sobre uma possível crise interna e falta de projetos.
Alerta para o mercado
Essa revisão do governo americano pode abrir um precedente perigoso para o setor de consultoria em geral. Se o governo federal começa a questionar a necessidade de intermediários caros, outras grandes empresas privadas também podem seguir esse caminho e revisar seus próprios contratos com essas consultorias.
O efeito dominó pode ser significativo, e as consultorias poderão ter que se adaptar ou perder uma parte importante do seu mercado.
Valverde aponta uma oportunidade nesse cenário para empresas especializadas em automação e Inteligência Artificial (IA). Segundo ele, essas empresas poderiam preencher o espaço deixado pelas tradicionais consultorias, oferecendo soluções mais eficientes e com custos mais baixos, sem a necessidade de cobrar bilhões de dólares por relatórios e apresentações.
“Se conseguirem provar que fazem mais com menos, sem precisar cobrar bilhões para entregar planilhas com insights óbvios, podem capturar esse espaço”, sugere.
Crise no modelo tradicional de consultoria
A grande questão levantada por Valverde é a eficiência das consultorias tradicionais. Embora essas empresas se vendam como especialistas em aumentar a eficiência de outras organizações, a real contribuição delas para os negócios tem sido amplamente questionada.
“Como calcular o retorno sobre uma estratégia?”, questiona Michael Mische, ex-executivo da KPMG, uma das grandes empresas de consultoria do mundo. A dúvida sobre o real valor das consultorias está gerando uma pressão para que elas entreguem resultados tangíveis e não apenas relatórios elaborados e pouco úteis.
Doug Collins, secretário do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos, foi direto ao ponto: “Chega de pagar consultorias para fazer PowerPoints e atas de reunião.” Essa frase resume o sentimento crescente entre os críticos das grandes consultorias, que agora enfrentam a cobrança por entregas mais concretas e eficazes.
Com os governos e grandes empresas questionando o modelo tradicional, a questão levantada pelo especialista é: ainda há espaço para as consultorias bilionárias no mercado ou chegou a hora de uma verdadeira disrupção nesse setor?