
A Americanas iniciou, na última terça-feira (11), um processo arbitral contra quatro ex-diretores da empresa, acusados de envolvimento na fraude contábil que levou a varejista a solicitar recuperação judicial em 2023.
A companhia busca a condenação dos ex-executivos Miguel Gutierrez, Anna Saicali, Thimoteo Barros e Márcio Cruz, exigindo que eles reponham os danos materiais e imateriais causados pela fraude, que resultou em perdas superiores a R$ 25 bilhões.
Essa ação foi aprovada pelos acionistas da Americanas em uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) realizada em dezembro de 2024.
O procedimento arbitral será conduzido pela Câmara de Arbitragem do Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo.
Em nota, a empresa reforça seu compromisso com o esclarecimento dos fatos e a responsabilização civil e criminal de todos os envolvidos.
A Americanas também assegura que continuará agindo de forma responsável e transparente, cumprindo as determinações judiciais e as orientações das autoridades que conduzem as investigações.
Antigo diretor se pronuncia
José Timotheo de Barros, ex-diretor da Americanas (AMER3), que foi incluído no procedimento arbitral referente às fraudes contábeis reveladas em janeiro de 2023, emitiu uma nota informando que usará a arbitragem para “deduzir” sua pretensão contra a companhia e outros envolvidos.
Através de seu advogado, Antonio Sergio Pitombo, Barros afirmou que “sabe que a empresa foi usada” desde o fato relevante de 11 de janeiro de 2023, para “satisfação de interesses espúrios de poucos”.
Além de Barros, o processo arbitral, iniciado pela Americanas (AMER3) na segunda-feira (11), também busca a condenação de mais três ex-diretores: Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, Anna Christina Ramos Saicali e Márcio Cruz Meirelles.
Americanas busca reembolso de despesas
A Americanas buscará recuperar os custos relacionados à arbitragem e informou que, após a descoberta das irregularidades nas finanças da empresa, foi formado um comitê de investigação independente.
Esse comitê concluiu que a antiga gestão da empresa cometeu fraude contábil, alterando as demonstrações financeiras e ocultando informações essenciais do Conselho de Administração e do mercado.
Miguel Gutierrez deixou a companhia em 31 de dezembro de 2022, enquanto Thimoteo Barros foi afastado de suas funções executivas em fevereiro de 2023, e renunciou em maio de 2023. Anna Saicali e Márcio Cruz foram desligados em junho de 2023, junto a outros ex-executivos, após a confirmação das fraudes.
A empresa revelou que as investigações demonstraram que a fraude contábil envolveu lançamentos indevidos na conta de Fornecedores, o uso de contratos falsos relacionados a verbas de propaganda cooperada (VPC) e operações financeiras conhecidas como risco sacado.
Essas evidências foram encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF), à Polícia Federal (PF) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A Polícia Federal, em junho de 2023, deflagrou a Operação Disclosure, que resultou na prisão de Gutierrez e Saicali, que estavam fora do Brasil. A operação também levou ao sequestro de bens e valores dos ex-executivos, totalizando mais de meio bilhão de reais.
Relembre o caso
A fraude contábil causou uma grave crise financeira à Americanas, levando a empresa a iniciar um processo de recuperação judicial.
Como parte do processo de reestruturação, foi realizado um aumento de capital, e os bancos se tornaram acionistas, junto ao trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que passaram a controlar 50,01% das ações.
Após a operação da Polícia Federal em julho de 2023, as investigações continuaram, e a empresa teve de adotar medidas urgentes para lidar com os efeitos da fraude, que comprometeram sua credibilidade e abalaram sua estrutura financeira.