Alta de juros e baixa volatilidade

Mercado de dívida aquece com melhora no apetite dos investidores

A emissão de títulos de dívida está em alta, com empresas e o governo aproveitando a oportunidade

Foto: Freepik
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O mercado de dívida brasileiro tem mostrado sinais de aquecimento, conforme a análise de especialistas ouvidos pelo BP Money, devido à elevação nas emissões de títulos e a busca por rendimentos mais elevados. 

Com a alta das taxas de juros e as expectativas de inflação, a demanda por ativos de dívida tem se intensificado, criando oportunidades, mas também desafios para os investidores.

Victor Deischl, CFA, cofundador da Rubik Capital, destaca que o aquecimento do mercado de crédito tem sido impulsionado pela elevação da taxa Selic.

“Com taxas de juros mais altas, os investidores estão sendo muito bem remunerados para correr menos risco do que na renda variável”, explica Deischl, acrescentando que a alta da Selic tem beneficiado especialmente os fundos de crédito, que captaram R$ 200 bilhões em 2024, um crescimento expressivo comparado a outros segmentos de investimento. 

A alta das taxas de juros, aliada ao desempenho aquém de outros ativos como a bolsa brasileira, resultou em um fechamento dos spreads de crédito, aproximando-os dos níveis de 2019.

Emissão de títulos e aumento da confiança no setor

A emissão de títulos por empresas e pelo governo também tem sido um dos principais indicadores do aquecimento do mercado.

Jeff Patzlaff, planejador financeiro, reforça essa tendência, afirmando que “a emissão de títulos de dívida por empresas e pelo governo, buscando aproveitar o ambiente de taxas de juros elevadas, é um sinal claro do aumento no apetite dos investidores”.

O planejador observa que, além de buscar rendimentos mais altos, os investidores têm se mostrado mais interessados em títulos públicos, como demonstrado pelas últimas licitações, que registraram alta demanda.

Carlos Eduardo Soares de Oliveira Junior, conselheiro do Corecon-SP, também observa a expansão das emissões de títulos corporativos e soberanos como um reflexo do aquecimento do mercado.

Junior aponta que “o aumento da participação de investidores institucionais e a crescente demanda por ativos de renda fixa reforçam esse movimento”, destacando ainda a diversificação de instrumentos financeiros, como as debêntures incentivadas e CRIs/CRAs, que têm ganhado popularidade.

Incertezas econômicas e políticas ainda desafia mercado de dívida

Apesar do otimismo, os especialistas não deixam de apontar que existem desafios. A incerteza política e a volatilidade dos mercados externos são fatores que podem impactar a atratividade do mercado de dívida.

Patzlaff destaca que “as preocupações fiscais e as expectativas de uma inflação mais elevada podem aumentar os prêmios de risco, afetando negativamente o mercado de dívida”.

Além disso, a perspectiva de novos aumentos na taxa Selic, que pode ultrapassar os 15%, pode tornar o ambiente ainda mais desafiador, com a probabilidade de uma maior exigência de prêmios de risco pelos investidores.

A recuperação econômica, por outro lado, traz uma perspectiva mais positiva. Para Deischl, uma “redução da incerteza política e uma recuperação econômica tendem a aliviar a curva de juros”, o que é benéfico para as empresas e governos, que conseguiriam captar recursos a taxas mais favoráveis.

A confiança dos investidores se fortalece com a redução da inflação e a melhora nas condições econômicas, permitindo uma maior atratividade para os investimentos de longo prazo.

Oliveira Junior também acredita que a “redução da incerteza política” pode favorecer o mercado de dívida, pois “traz mais previsibilidade para os mercados e reduz os prêmios de risco exigidos pelos investidores”.

Expectativas para o futuro

Oliveira Junior é otimista quanto ao futuro próximo do mercado de dívida, projetando que “o mercado de dívida continuará forte, especialmente se houver cortes nas taxas de juros e um ambiente econômico mais estável”.

Os setores de infraestrutura, energia e tecnologia, que têm uma alta necessidade de financiamento, devem ver um aumento nas emissões.

No entanto, ele adverte que a volatilidade dos mercados globais e a possibilidade de inflação persistente podem gerar desafios, afetando as decisões de política monetária e, consequentemente, o custo do crédito.

Patzlaff, por sua vez, aponta que o cenário de taxas de juros altas continuará aquecendo o mercado de dívida, com uma maior emissão de títulos, tanto por empresas quanto pelo governo.

O especialista destaca, no entanto, que os investidores devem estar atentos ao risco crescente à medida que a rentabilidade mais elevada pode ser acompanhada de maiores riscos de crédito.