O processo protecionista dos EUA com seus parceiros comerciais chegou ao nível mais tenso desde o início do ano, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu aumentar as tarifas sobre as importações dos demais países. Com isso, a UE (União Europeia) começou a dar indícios de que priorizará o acordo com o Mercosul, o que, na visão de analistas, pode ser benéfico para ambos os blocos, mas ainda está longe de acontecer.
Além da ofensiva global de 20%, Trump também taxou os carros fabricados na UE e importados para os EUA. No entanto, até o momento o bloco ainda não respondeu diretamente à ação, pois seus Estados-membros votarão a decisão nesta quarta-feira (9).
Na avaliação de André Mirsky, economista consultor financeiro na W1 consultoria, o bloco europeu passou a enxergar com mais pragmatismo o acordo com o Mercosul, diante do maior protecionismo dos EUA.
“Se antes o processo esbarrava em exigências ambientais e resistências internas, agora cresce a percepção de que um tratado com os países sul-americanos pode representar não apenas uma oportunidade econômica, mas também uma resposta estratégica à nova ordem comercial em formação”, disse Mirsky.
No entanto, o economista também chamou atenção ao fato de que, se o acordo se concretizar, a relação entre a UE e os EUA estaria em uma fase mais cautelosa, mas que não haveria uma substituição para os EUA, e sim uma redução da dependência comercial europeia.
Por conta dessa dependência, o especialista da FIPECAFI, Humberto Aillon, afirmou que a expectativa para a efetivação do acordo entre o bloco europeu e o sul-americano é baixa. Para ele, a evolução do acordo estará mais ligada aos interesses de cada região.
“Conforme dados da balança comercial, de janeiro e abril de 2025, a União Europeia (UE) exportou US$ 71,71 bilhões para o Brasil, um aumento de 12,9% em relação ao mesmo período do ano anterior”, comentou Aillon.
Enquanto o motivador de Trump seguir sendo equalizar as barreiras e benefícios de exportação e importação, a relação comercial entre os EUA e a UE seguirá estável, segundo o especialista da FIPECAFI.
“Conforme novos arranjos econômicos sejam firmados e tanto a União Europeia quanto o Mercosul a necessidade dos EUA tende a reduzir, mas ainda assim temos diversos setores produtivos que todos continuarão dependendo dos EUA”, concluiu Aillon.
Os benefícios do acordo UE-Mercosul
Ainda que não solucione todas as problemáticas sustentadas pelo protecionismo de Trump, o acordo entre o bloco econômico europeu e o sul-americana trará benefícios para diversas áreas econômicas, o que pode repercutir também na Bolsa brasileira.
Conforme comentário de André Mirsky, os segmentos de agropecuária, minerais — que tem sofrido expressivamente nas últimas sessões após o tarifaço — e áreas industriais, como os frigoríficos, os grãos, a celulose, o açúcar e o aço, seriam mercados mais propícios à expansão, pelo lado do Mercosul, com um acordo efetivo.
“Além disso, o acesso a tecnologia e bens de capital europeus tende a impulsionar setores produtivos, especialmente no Brasil e na Argentina”, disse o economista.
Além de concordar com a análise do economista, Humberto Aillon acrescentou que o cenário econômico deve favorecer um alívio na inflação de ambos, “pois a UE deve tratar uma série de produtos do Mercosul como domésticos e com isenção expressiva acima de 80%, como no caso de frigoríficos.”
No caso do Brasil, pensando em questões específicas da União Europeia, como os subsídios e a qualidade dos produtos, alguns setores como o de produção de vinhos e leite sofreriam certa pressão nos negócios.
Enquanto isso, a UE teria como pontos positivos o crescimento em setores industriais de alto valor agregado, como automóveis, farmacêuticos, químicos e serviços, explicou Mirsky.
“O tratado pode gerar maior escala e competitividade para empresas europeias, ao mesmo tempo em que fortalece sua presença estratégica em uma região com enorme potencial de consumo e recursos naturais”, finalizou.