No mundo dos vinhos, há muitas lendas que vêm e vão ao sabor do tempo. Desde a ideia de que todo vinho fica melhor quando envelhecido à crença de que apenas os rótulos mais caros são bons, existem uma série de equívocos que circulam entre apreciadores e iniciantes da bebida. Mas afinal, algum desses boatos se sustentam? Descubra, a seguir, dez mitos comuns sobre o mundo do vinho – e por que eles não condizem com a realidade.
1. Quanto mais velho o vinho, melhor ele é
A maioria dos vinhos disponíveis no mercado são feitos para consumo imediato, com a possibilidade de armazenamento entre 3 a 5 anos após a produção, pois pertencem à categoria dos chamados “vinhos jovens”. Em seguida, também existe a categoria de vinhos de médio envelhecimento, são exemplares que adquirem sabores e aromas mais complexos depois de um período que varia de 6 a 10 anos. Por fim, há os vinhos de longa guarda, como Bordeaux Grand Cru e Barolo, que evoluem por décadas, tornando-se excepcionais e valiosos. Para entender o período indicado de armazenamento para cada exemplar, basta conferir informações da ficha técnica, conforme recomendação do produtor.
2. Vinhos com tampa de rosca (screw cap) não têm qualidade
Atualmente, já é possível encontrar grandes vinhos de guarda com tampa screw cap. Esse tipo de vedação surgiu como uma alternativa à tradicional rolha de cortiça, especialmente diante de uma demanda que supera a oferta desse material natural. É importante destacar que a principal função da rolha é vedar a garrafa, protegendo o vinho do contato com o oxigênio — e isso pode ser feito com eficiência tanto pela tampa de rosca quanto por rolhas alternativas, como as sintéticas.
3. Vinhos com sabor mais adocicado levam açúcar em sua composição
O sabor adocicado dos vinhos finos não vem de açúcar adicionado, mas sim do açúcar residual presente na própria uva. Durante o processo de vinificação, parte do açúcar da fruta não é fermentado e, portanto, permanece no vinho, conferindo ao vinho maior ou menor doçura. Esse açúcar residual é mais comum em vinhos de menor teor alcoólico ou em vinhos doces, como os de colheita tardia, mas, em vinhos secos, ele está geralmente em pequenas quantidades. Outro fato importante é a percepção do teor de açúcar residual também é influenciada por outros fatores, como por exemplo, pelo nível de acidez. Quanto maior for a acidez, menor tende a ser a percepção de doçura. Por isso os vinhos de sobremesa costumam ter boa acidez, para equilibrar o açúcar e não tornarem a experiência enjoativa.
4. Vinhos Verdes são verdes
A expressão “Vinho Verde” refere-se a uma Denominação de Origem Controlada (D.O.C), que é uma certificação concedida a produtos de uma região específica, garantindo que atendam a padrões de qualidade e características únicas relacionadas ao seu terroir. No caso do Vinho Verde, essa D.O. está localizada a noroeste de Portugal, às margens do Rio Minho. Seguindo as regras que compõem essa D.O., os vinhos verdes podem ser brancos, rosés, espumantes e até tintos.
5. Quanto maior ou mais pesada a garrafa, melhor o vinho
A aparência não é garantia de que o vinho será de qualidade. Muitos produtores utilizam garrafas maiores e mais pesadas para armazenar seus vinhos mais caros, passando a ideia de nobreza, mas isso não significa que sejam melhores ou mais indicados para o seu paladar. As garrafas mais pesadas são mais caras e implicam maiores custos de armazenagem e transporte. Em um mundo cada vez mais sustentável, os produtores vêm preferindo utilizar vidros mais leves ou garrafas elaboradas de outros materiais que não impactam tanto o meio ambiente. Ou seja, vinhos em garrafas simples, práticas e leves serão cada vez mais comuns.
6. Rosés são feitos a partir de sobras dos tintos
Rosés não são feitos a partir de sobras dos tintos, mas sim de um processo específico de vinificação. Para alcançar a cor rosada, o mosto (parte interna da uva) é mantido em contato com as cascas por um tempo mais curto do que nos vinhos tintos. Esse contato breve permite que o vinho adquira a cor delicada característica dos rosés, sem a extração excessiva de cor e taninos das cascas, como ocorre nos vinhos tintos.
7. Todo espumante é champagne
Espumante é um tipo de vinho que passa por uma segunda fermentação — natural ou induzida — responsável por gerar as borbulhas características da bebida. Essa efervescência pode ser resultado de diferentes métodos de produção, e o estilo varia conforme a origem e as uvas utilizadas.
Um mito clássico no mundo do vinho é confundir espumante com champagne. Na verdade, nem todo espumante é champagne, mas todo champagne é um espumante. Isso porque Champagne é uma Denominação de Origem Controlada (D.O.C.), assim como o Vinho Verde mencionado anteriormente. Apenas os espumantes produzidos na região de Champagne, no norte da França, podem legalmente ser chamados de “champagne”. Essa denominação é protegida por uma legislação específica que reconhece, regulamenta e controla toda a produção da região.
8. Quanto mais caro, melhor o vinho
Há vários vinhos mais em conta que possuem excelente qualidade. O preço de um vinho é influenciado por vários fatores, desde técnicas de cultivo e rendimento por planta, o terroir onde as uvas são cultivadas, se terá ou não denominação de origem, como amadurecem, como são armazenados, até custos finais de transporte, importação e venda, não dependendo exclusivamente de sua qualidade.
9. Vinhos brancos não podem ser envelhecidos
Vinhos brancos com boa acidez e passagem por barricas de carvalho podem apresentar maior longevidade e envelhecer com qualidade, quando bem armazenados. Por isso, é importante manter as garrafas longe de luz direta e em local com temperatura controlada, como é o caso de adegas.
10. Vinhos do Porto são elaborados no Porto
O vinho do Porto não é produzido diretamente na cidade do Porto, mas sim na região do Douro, em Portugal, conhecida por suas vinhas ao longo do rio Douro. Após a produção, o vinho é envelhecido na cidade de Vila Nova de Gaia, que fica na margem oposta do rio, em frente ao Porto. Essa separação entre produção e envelhecimento é uma tradição importante na vinificação do vinho do Porto.