Quando Donald Trump foi eleito presidente dos EUA, em novembro do ano passado, muitas projeções foram feitas para o cenário econômico e o desempenho dos diversos setores da Bolsa, no entanto, ninguém poderia prever o prejuízo que as big techs teriam ainda nos primeiros passos do mandato. Com a guerra tarifária travada com a China, o que se espera é pressão sobre os custos, estruturas e lucros dessas empresas.
Desde o início das medidas tarifárias de Trump, as big techs norte-americanas — Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft e Nvidia — perderam mais de R$ 900 bilhões apenas em abril, quando as disputas com a China se intensificaram.
No dia 2 de abril, o republicano anunciou tarifas de importação para todos os parceiros comerciais dos EUA, sendo 34% para a China. O governo de Xi Jinping revidou com outras tarifas sobre os produtos importados norte-americanos.
Desde então, houve uma escalada na guerra comercial, e atualmente os EUA impõem tarifas de 245% ao governo chinês, que ainda não respondeu e segue com os 125% determinados anteriormente.
No que diz respeito às big techs, a produção de seus aparelhos e ferramentas tecnológicas dependem bastante das importações da China aos EUA. Com isso, as ações das empresas têm sofrido perdas expressivas na Bolsa, mesmo após a isenção tarifária determinada por Trump para alguns itens eletrônicos, como smartphones, laptops e determinados tipos de circuitos integrados.
“No entanto, as isenções são temporárias e não abrangem toda a cadeia de semicondutores, o que mantém a pressão sobre os custos operacionais e a estrutura de suprimentos das Big Techs”, afirmou Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital.
A análise foi reforçada por Paulo Porto, CFO da Zavii Venture Builder, que apontou para o impacto consequente nos lucros das big techs. “Como seus insumos ficam mais caros, elas terão que repassar preços aos consumidores, e arriscar perder market share, ou manter os preços atuais e perder margem”, disse.
Segundo Porto, essas empresas enfrentarão, no médio prazo, o desafio de reestabelecer cadeias produtivas mais próximas, junto com a necessidade de investimentos fora de seus roadmaps.
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“Isso pode tornar o modelo das empresas mais intensivo em capital [asset heavy], o que o mercado tende a punir em termos de múltiplos”, concluiu.
Novos capítulos para as big techs
Em uma nova ofensiva contra a resistência chinesa em ceder às imposições dos EUA, a Casa Branca anunciou, além das tarifas de 245%, uma limitação para a exportação de chips necessários para a tecnologia de inteligência artificial à China.
Conforme o comunicado, serão emitidos novos requisitos de licenciamento para exportação dos chips H20 da Nvidia, e seus equivalentes, para a China. Segundo a empresa, isso causará um prejuízo de US$ 5,5 bilhões por causa das restrições.
Andreoli comentou que, ao menos no médio prazo, a principal resposta das big techs a essas imposições tem sido a realocação de fábricas, com a retirada de parte da produção da China para países como Índia, Vietnã e México.
“Já no longo prazo, a sustentabilidade de sua dominância global dependerá da capacidade de inovação contínua em áreas como inteligência artificial, computação quântica, chips próprios e serviços em nuvem”, esclareceu.
Para enfrentar o mal momento na Bolsa e seguir atraindo os investidores, as big techs podem adotar também outras medidas, na avaliação de Victor Ramos, CPTO da Zavii Venture Builder. Segundo ele, no quesito fortalecimento de cadeias produtivas, outras regiões do globo, como a América Latina e o Sudeste Asiático podem ser consideradas para mitigar riscos e ter mais vantagens logísticas.
“Além disso, manter investidores, clientes e parceiros informados sobre as estratégias adotadas para enfrentar os desafios tarifários é crucial. Uma comunicação transparente pode fortalecer a confiança”, completou.
