Artigo

As Aventuras de PIB

Um filme de terror, recém-lançado, que narra a resiliência econômica da China, e com final pouco feliz

Imageem criada por IA
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Um bote no meio do nada. Cercado por um tigre asiático, um orangotango geopolítico, uma hiena raivosa e, se tudo correr bem, uma pequena zebra.
Essa é a economia mundial no novo capítulo das Aventuras de PIB.
Um filme de terror, recém-lançado, que narra a resiliência econômica da China, e com final pouco feliz.

Se As Aventuras de Pi foi sobre um garoto indiano naufragado tentando sobreviver com um tigre chamado Richard Parker, a versão econômica do filme tem outro protagonista: o Produto Interno Bruto — ou, como gostamos de chamar por aqui, o PIB. E o nome do tigre, desta vez, é “tarifa”, made in USA.

No primeiro trimestre de 2025, a China cresceu 5,3%. Mais do que o esperado — o que, num mundo onde a expectativa já foi rasgada e usada como boia inflável, é um feito digno de Oscar. Mas nem tudo são ondas calmas e céu azul. Esse número, que parece animador, esconde uns tubarões no fundo do mar. O consumo interno desacelerou, a construção civil anda manca e, de brinde, um plot twist tarifário dos Estados Unidos — que parecem ter um baralho de Uno em mãos.

Você já tentou remar pra frente com um orangotango remando pra trás? É bem difícil progredir.

Apesar do crescimento de 5,3%, o mercado parece ter encontrado uma bússola apontando para uma direção menos empolgante: crescimento moderado de 4,5% em 2025. A palavra “moderado” aqui é eufemismo pra “menos do que o necessário pra bater a meta e não parecer que a economia tá gripada”. O número fica abaixo dos 5,0% do ano passado — e também da meta oficial, que continua firme e forte na política do “quase lá”. Os bancos de investimento globais, aqueles que jogam SimCity com as economias do mundo, já começaram a revisar pra baixo as apostas no dragão asiático.

Mas nem tudo é tormenta. Março trouxe um ventinho favorável: as vendas no varejo cresceram 5,9%. A produção industrial também acelerou. Só que aí vem o velho vilão do terceiro ato: o setor imobiliário. Sim, ele mesmo. Aquele que prometia luxo, concreto e arranha-céus, agora virou âncora do crescimento. Com investimento caindo quase 10% no trimestre, o setor virou o furo no bote do PIB.

Em resumo, o PIB chinês está em modo sobrevivência. Cresce por impulso, por estímulo estatal e com ajuda da velha amiga exportação — que, ironicamente, depende do mesmo Ocidente que ameaça transformar a Ásia em tabuleiro de War. E a cereja do bolo? O setor imobiliário, aquele que nos últimos anos foi responsável por transformar cidades em fantasmas de concreto, ainda está afundado até o pescoço.Mas, como no filme, o PIB (assim como Pi) ainda sorri. Ainda sobrevive. E ainda faz a gente acreditar que talvez, só talvez, esse barquinho aguente mais uma tempestade.
A moral da história? Não subestime a China. Ela pode estar num bote, no meio do caos, mas conhece cada onda desse mar. E se o tigre do protecionismo americano tentar dar o bote… bom, o PIB já aprendeu a remar com uma mão e domar felino com a outra.