Apesar de pouco citados em períodos voláteis, os “bancões” dos EUA são grandes detentores de ações nas bolsas de valores. Com a conclusão da temporada de balanços, as instituições surpreenderam com novas altas. Especialistas ouvidos pelo BP Money explicam os novos resultados positivos, mesmo no cenário de incerteza global.
Mesmo ante previsão no aumento dos preços pelas tarifas do presidente norte-americano, Donald Trump, os grandes bancos norte-americanos tendem a estar relativamente protegidos.
Em especial, aqueles com atuação internacional diversificada, comenta Carolina Kircher Herskovits, Head de Relações com Investidores da Aware Investments.
Essas instituições operam em múltiplos mercados, o que permite diluir o risco de medidas protecionistas específicas. No curto prazo, ela salienta que o ambiente pode até favorecer os bancos, ampliando suas margens financeiras.
Thiago da Cruz, CEO (presidente-executivo) da 87 Labs, esclarece que a volatilidade do mercado e a valorização do dólar podem ser decisivos no desempenho das instituições, mas destaca a capacidade dessas de surfar na incerteza: “as medidas anunciadas ainda não envolvem, por exemplo, uma taxa sobre movimentações financeiras.”
Como proteção a insegurança, as taxas de juros mundo afora sobem, isso favorece os bancos, que passam a cobrar juros maiores em seus empréstimos, o que melhora seus balanços financeiros, justifica.
“Então, enquanto setores como o de grãos, madeira ou o automotivo (especialmente com produções integradas entre Canadá e EUA) estão sendo diretamente impactados pelas tarifas, os bancos continuam operando com alguma vantagem em um cenário volátil.”
Resultados mais consistentes
No 1T25, o JPMorgan Chase reportou lucro líquido de US$ 13,4 bilhões, acima dos US$ 12,6 bilhões esperados pelo mercado. O Bank of America lucrou US$ 6,7 bilhões, também superando as projeções.
Goldman Sachs, JPMorgan Chase e Morgan Stanley destacaram que o forte crescimento das receitas com operações de trading também ajudou a elevar os lucros no trimestre, superando as expectativas.
Segundo Gianluca Di Mattina, da Hike Capital, bancos tendem a apresentar resultados menos expressivos que empresas de tecnologia ou consumo discricionário, mas mais consistentes ao longo dos trimestres.
“Como o setor financeiro depende menos de efeitos pontuais de inovação ou ciclos de consumo, a performance tende a surpreender positivamente em momentos de estabilidade, mas sem grandes saltos como se vê em empresas mais voláteis”, explica.
Ainda de acordo com o especialista esses números foram impulsionados por margens de juros ainda elevadas e controle da inadimplência, mesmo com a desaceleração do crédito.
Para o economista e líder do Mercado de Capitais da Crowe, Ricardo Rodil, os bancos norte-americanos vão de vento em popa. Para ele, os resultados vieram tanto do setor de juros quanto da parte de investimentos:
“Os bancos estavam aproveitando de uma curva de juros que deixava os recursos tomados para o curto prazo mais baratos do que os recursos no longo prazo. A equação é simples: tomar recursos financeiros no mercado de curto prazo e emprestá-lo no de longo prazo.”