Diante de um cenário conturbado para a economia mundial, Giovanni Puonzo, banker, empreendedor e fundador do portal de notícias BP Money, trouxe uma perspectiva mais ampla sobre os possíveis impactos da escalada da guerra tarifária entre China e EUA, bem como um possível desaquecimento global.
Apesar dos indícios de que deve haver uma negociação em breve entre as duas maiores economias do mundo, Puonzo avalia que o desaquecimento global não é positivo para o Brasil, mas o País tende a sofrer menos do que a média das nações.
As declarações foram feitas nesta quarta-feira (23) durante sua participação no podcast “Eleve o Level”.
“Na estrutura que está sendo criada, se vier a acontecer, nós tendemos a sofrer muito menos do que a média dos países”, afirmou.
Segundo ele, o mercado brasileiro convive com uma espécie de “síndrome do ‘susu’”. “Nós flertamos com o Sudão, flertamos com a Suíça e não nos transformamos nem em Sudão, nem em Suíça”, disse, reforçando que, quando há um abalo externo, o Brasil não está tão exposto a se “machucar”.
Brasil como “fazenda do mundo”
Puonzo destaca que um dos possíveis cenários envolve o Brasil como “fazenda do mundo”. Nesse contexto, um agravamento da crise comercial poderia reduzir a demanda global por alimentos e commodities, afetando as exportações brasileiras.
“Se a crise comercial tomar uma proporção maior, gerando um desaquecimento da economia global, o País deve sentir os efeitos, porque as economias menos aquecidas vão comprar menos do Brasil”, avaliou.
No entanto, o especialista vê dois fatores que amenizam o impacto: a dependência comercial da China em relação ao Brasil e o equilíbrio nas relações comerciais com os EUA.
“Hoje, o principal parceiro comercial do Brasil é a China. E ela está olhando essa disputa com os EUA e pensando: ‘preciso depender menos dos americanos, então vou comprar mais do Brasil’”, explicou.
Desaquecimento global: Brasil não sofreu tanto com tarifas dos EUA
Na avaliação de Puonzo, o Brasil também se beneficiou por não ter sido alvo de tarifas mais duras por parte dos Estados Unidos durante a gestão de Donald Trump, ao contrário do que ocorreu com outros países.
“O Brasil foi taxado somente em 10%. A tese de Trump era de olhar para a reciprocidade. Na prática, ele não fez isso, porque o Brasil cobra tarifas muito mais altas do que os EUA. Então, por que ele deixou o Brasil de fora? Porque ele olhou para quem tinha uma balança comercial muito negativa com os EUA”, argumentou.
Segundo ele, a China “vende mais do que compra” dos americanos, o que a tornou um alvo prioritário. Já o Brasil mantém um certo equilíbrio nas trocas com os Estados Unidos.
“O Brasil é um dos poucos países em que há equilíbrio entre importações e exportações com os EUA. Por isso, ele não nos vê como uma grande ameaça. Além disso, os produtos que exportamos, principalmente para os EUA, são produtos de subsistência, como carnes”, concluiu.