
A inflação nos EUA mostrou sinais de alívio em março, com o índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) — indicador preferido do Federal Reserve — sugerindo uma redução nas pressões inflacionárias, o que pode abrir caminho para uma política monetária mais branda nos próximos meses.
O PCE avançou 2,3% na comparação anual, abaixo dos 2,7% revisados de fevereiro, indicando uma desaceleração no ritmo de alta dos preços. Na base mensal, o índice ficou estável, revertendo o crescimento de 0,4% observado no mês anterior.
A versão do PCE que exclui itens voláteis como alimentos e energia, conhecida como núcleo da inflação, também apontou para uma dinâmica mais contida: alta de 2,6% no acumulado de 12 meses, frente aos 2,8% do mês anterior. Em relação a fevereiro, a variação mensal também foi nula, recuando após um avanço revisado de 0,5%.
Esse movimento reforça a percepção de que o Federal Reserve pode encontrar espaço para iniciar um ciclo de redução de juros, especialmente diante de outros dados que sugerem enfraquecimento da economia americana.
No mesmo dia, foi divulgado que o PIB dos EUA recuou 0,3% no primeiro trimestre de 2025, contrariando projeções de crescimento e acentuando preocupações com os efeitos da política comercial do presidente Donald Trump, que pode estar pesando sobre a atividade econômica.
Inflação mista e núcleo em queda reforçam cautela do Fed
Para Andressa Durão, economista do ASA, os dados do PCE de março vieram dentro do esperado, mas a desaceleração no núcleo da inflação traz um sinal relevante. “A estabilidade do núcleo do PCE depois de meses de alta mostra uma trégua nas pressões inflacionárias, especialmente nos serviços”, afirma. Ela destaca que, apesar da surpresa negativa com o Core PCE nos dados do PIB, a média trimestral anualizada já indica uma trajetória de desaceleração, sobretudo nos serviços, enquanto os preços de bens permanecem estáveis.
Durão observa ainda que não há, por ora, indícios claros de impacto das tarifas sobre os preços ao consumidor, e reforça que o Federal Reserve segue adotando uma postura de cautela, mantendo os juros inalterados enquanto monitora os riscos e os próximos dados.
Sinais de desaquecimento no mercado de trabalho dos EUA pressionam cenário econômico
O mercado de trabalho dos EUA apresentou um desempenho mais fraco do que o esperado em abril, com os empregadores do setor privado criando apenas 62 mil vagas, número bem abaixo das projeções de analistas.
O dado reforça a percepção de desaceleração econômica no país, que já vinha sendo sugerida por outros indicadores recentes.
Entre eles, destaca-se a queda na confiança do consumidor, que atingiu em abril o patamar mais baixo em quase cinco anos, e a forte retração nas ofertas de emprego observada em março, ambos apontando para um ambiente econômico mais contido.
Em meio a esse cenário, cresce a atenção em torno da próxima reunião do Fomc, Comitê Federal de Mercado Aberto, marcada para o início de maio.
Na última decisão, o comitê optou por manter os juros inalterados, em razão das incertezas que ainda pairam sobre a política econômica do governo Trump. A combinação de dados mais fracos e indefinições na agenda política pode influenciar os rumos da política monetária nos próximos meses.