Especial dia das mães

Gestação e a estratégia: a escolha consciente de ser mãe

Darla Sierra, CEO da VLG, conta como estrutura sua rotina entre negócios, filha e decisões de alta gestão. Inspire-se nesta história real

Na foto temos uma um mulher negra com traças afro. Foto ilustração da matéria: Gestação e a estratégia: a escolha consciente de ser mãe
Foto: Darla Sierra CEO da VLG / divulgação

A trajetória de Darla Sierra, sócia e CEO da VLG Investimentos, revela como é possível conciliar maternidade e liderança sem abrir mão da intencionalidade e da ambição profissional.

Sua história, marcada por escolhas conscientes e pela busca de equilíbrio entre o cuidado com a filha e a atuação como executiva, serve como inspiração para outras mulheres que enfrentam o dilema entre carreira e maternidade.

“Minha filha nasceu quando eu tinha 35 anos”, afirmou Sierra. A decisão de ser mãe não aconteceu por acaso ou impulso. “Foi uma escolha planejada, conectada a um momento da minha carreira e da minha vida pessoal.”

Na época, Darla morava fora do Brasil, enquanto sua empresa seguia em operação por aqui. A decisão de maternar coincidiu com o início da pandemia, o que adicionou complexidade ao cenário.

“Era um desafio emocional, logístico e também estratégico. Mas eu me sentia pronta, inclusive financeiramente.” O desejo de aproveitar a licença maternidade não veio acompanhado de uma pausa completa. Pelo contrário.

“Queria voltar dessa licença com a minha marca pessoal ainda mais forte. Por isso, escolhi fazer uma especialização em Stanford. Cuidar de um bebê e estudar ao mesmo tempo, durante uma pandemia, foi extremamente difícil. Mas foi uma escolha minha, e paguei o preço por ela.”

Maternidade sem culpa e com intenção: a rotina de uma CEO

“Quando minha filha nasceu, eu já tinha clareza de que precisaria reorganizar tudo — a agenda, os projetos, as expectativas.” Para Darla, o ponto central da sua vivência como mãe e executiva é a intencionalidade. “Cada escolha tem um custo. O que eu fiz foi definir quais custos eu estava disposta a bancar.”

Na prática, isso significou adaptar o ritmo, mas não abandonar planos. “Durante a licença, conversei com meus sócios e voltaria apenas depois de alguns meses. No entanto, retornei antes do previsto e assumi como co-CEO da empresa.”

A decisão reforçou a percepção de que o empreendedorismo permite alternativas que, em um regime tradicional de trabalho, muitas vezes não existem. “Não é a realidade de quem está em regime CLT. Mas mostra como podemos negociar e construir caminhos quando temos espaço de fala.”

A fala de Darla ecoa o discurso de muitas mulheres que enfrentam o dilema da volta ao trabalho após a maternidade. “Não é só sobre ter uma rede de apoio. É sobre entender como voltar, com quais ferramentas, com qual planejamento.”

Isolamento, pandemia e a ausência de rede de apoio

A primeira infância da filha de Darla foi marcada pela distância da família. “Tive minha filha nos Estados Unidos. As fronteiras estavam fechadas, não tínhamos como receber ninguém. Nem a minha mãe, nem a família do meu marido. Também não era possível contratar ajuda profissional por conta do momento da pandemia.”

Essa realidade levou o casal a construir uma rotina de cuidados sozinhos. “Montamos, entre nós dois, a logística do dia a dia com a bebê. Foi desafiador. A ausência de rede de apoio exigiu muito mais da nossa parceria”, declara. “A maternidade real é feita disso também: de improviso, de adaptação, de decisões diárias que mudam conforme o contexto”, finaliza.

Ao retornar ao Brasil, Darla explica que reestruturou completamente sua agenda. “Minha filha estuda em tempo integral. Isso foi uma decisão consciente. Sabíamos que, com as nossas agendas profissionais, seria necessário ter um tempo mais definido para ela na escola.”

Hoje, a família conta com uma rede de apoio próxima, incluindo a avó. “Minha mãe está por perto. Mas fazemos um esforço real para não exagerar na solicitação. A gestão da casa é nossa também.”

A logística da semana inclui um planejamento minucioso. “Temos uma planilha mensal com todas as atividades. Meu marido também viaja a trabalho, então coordenamos isso para garantir presença nos momentos-chave.”

Apesar da intensidade, Darla afirma: “No ano passado, viajei 17 vezes e não perdi nenhuma atividade da escola. Este ano já perdi uma. E está tudo bem.”

O impacto da maternidade na performance profissional

A maternidade trouxe um ganho de produtividade para Darla. “Eu fiquei muito mais eficiente. Aprendi a não perder tempo. Organizo minha agenda de forma intencional. Não tenho mais brechas desnecessárias. Cada bloco de horário é pensado para gerar impacto.”

Ela também destaca que a maternidade ampliou sua capacidade de decisão. “Aprendi a ser prática. Se o problema tem solução, resolvo. Se não tem, sigo. Isso veio do empreendedorismo, mas foi potencializado pela maternidade.”

Essa racionalidade aparece em várias falas. “Não dá para estar em São Paulo pensando ‘tadinha da minha filha em Brasília’. Ela está bem. Eu montei uma estrutura para isso. E quando estou com ela, estou 100% presente.”

Liderança feminina e cultura organizacional: o papel do exemplo

Darla usa seu lugar de liderança para criar exemplos concretos de como a maternidade pode estar presente em ambientes corporativos.

“Participei de uma reunião da escola da minha filha e, naquele mesmo dia, conduzi um morning call da empresa, direto da escola. Contei para todo mundo que estava lá. Peguei uma sala emprestada e fiz.”

Segundo ela, aquela atitude foi uma mensagem para toda a equipe. “Mostrei para as mulheres da empresa que é possível conciliar. E mostrei para os homens que, se eles não estavam na escola dos filhos, as esposas provavelmente estavam.”

Essa postura está alinhada com a cultura que Darla quer promover. “Não basta só ter mulheres em cargos de liderança. É preciso mostrar que elas podem ser mães, líderes, empreendedoras — tudo ao mesmo tempo, se assim escolherem.”

As decisões não são fáceis, mas precisam ser suas

Quando questionada sobre o que diria a outras mulheres que têm medo de pausar a carreira para maternar, Darla responde: “A vida adulta é feita de escolhas. Qualquer escolha tem consequências. O mais importante é estar consciente sobre o que aquela decisão representa para você e para sua família.”

Ela afirma que o sentimento de culpa precisa sair da mesa. “Tome a decisão e siga com clareza. Se decidir maternar agora, tudo bem. Se decidir esperar, tudo bem também. Mas que seja intencional.”

Ao olhar para sua própria trajetória, Darla reconhece o esforço. “Depois que minha filha nasceu, eu terminei Stanford, lancei meu primeiro livro, assumi a liderança da empresa. Isso só foi possível porque fiz escolhas muito claras. Não foi fácil. É cansativo. Mas é viável.”

O futuro e as possibilidades de uma nova maternidade

A executiva ainda não decidiu se terá mais filhos. “É uma decisão que vou postergar um pouco. Hoje, não sei como encaixaria mais uma criança na minha rotina. Mas gosto da ideia de uma família maior. No fim do ano, devo sentar e pensar com calma.”

Ela também reconhece a pressão social. “Brinco que minha filha e meu marido me pressionam. Mas é uma escolha que precisa ser minha. Só vou tomar essa decisão quando conseguir me visualizar nessa nova configuração.”

Darla finaliza com um conselho direto: “Tire a culpa da mesa. Tome conta da sua agenda. Portanto, cuide da sua narrativa. Se você não fizer isso, o caos toma conta.”

A experiência da CEO da VLG não é apresentada como fórmula. Mas como um exemplo de como maternidade e liderança podem caminhar juntas — com estratégia, intencionalidade e planejamento.