Manto sagrado

Camisas de futebol geram R$ 466 bi e perdem R$ 3 tri no descarte

Camisas de futebol movimentam R$ 466 bi globalmente, mas descarte e pirataria geram prejuízo de R$ 2,8 trilhões e R$ 20 bilhões no Brasil

Foto: Reprodução

A camisa de futebol impulsiona bilhões na economia global.

Em 2022, o mercado mundial de roupas ligadas ao futebol movimentou € 73,3 bilhões, o equivalente a R$ 466,6 bilhões. 

Além disso, a expectativa é ainda mais expressiva: até 2028, esse número deve atingir € 101 bilhões (R$ 642 bilhões), com a Europa concentrando 55% desse crescimento.

Nesse contexto, os clubes enxergam a camisa como ativo estratégico. 

Só o Real Madrid arrecadou € 196 milhões (R$ 1,2 bilhão) com uniformes na temporada 2023/24, conforme aponta relatório da UEFA. 

Ainda assim, os 20 clubes mais ricos da Europa geram entre 10% e 20% de suas receitas com produtos licenciados, como camisas e acessórios.

No Brasil, por sua vez, o mercado também gira cifras elevadas. 

A indústria esportiva nacional produz anualmente cerca de 400 milhões de peças originais. 

Um clube da Série A, por exemplo, lança três uniformes por temporada. Isso representa, em média, 240 mil camisas por time, todos os anos. 

No entanto, clubes com torcidas maiores, como Flamengo e Corinthians, ultrapassam facilmente essa marca.

Camisa de futebol gera perdas de R$ 2,8 trilhões por ano com descarte

Apesar das receitas bilionárias, o descarte rápido das camisas gera prejuízo global. 

Todos os anos, o mundo perde mais de US$ 500 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em produtos têxteis não reciclados. 

Só no Reino Unido, aproximadamente 100 mil toneladas de roupas esportivas acabam em lixões. 

Isso equivale a 500 milhões de camisas descartadas anualmente, ou 951 peças por minuto.

Além disso, a durabilidade média de uma camisa é de apenas 10 meses. 

Portanto, com o lançamento constante de novos modelos, o ciclo de consumo acelera, o descarte aumenta e os prejuízos se agravam.

Pirataria da camisa de futebol provoca rombo de R$ 20 bilhões no Brasil

Enquanto o mercado original tenta crescer, a pirataria se expande com força. 

Segundo a Associação pela Indústria e Comércio Esportivo (Ápice), o setor perde R$ 20 bilhões por ano para o comércio ilegal. 

Além disso, o Brasil deixa de arrecadar R$ 5 bilhões em impostos e perde a chance de gerar 40 mil empregos formais. 

Atualmente, a pirataria representa entre 30% e 35% do mercado esportivo nacional.

Em 2023, por exemplo, 17 milhões de camisas piratas foram vendidas no Brasil, dentro de um total de 57 milhões de unidades comercializadas. 

A maioria dessas vendas ocorre por meio de canais digitais, o que dificulta a fiscalização e, consequentemente, facilita a expansão do comércio ilegal.

Marcas reagem com metas sustentáveis

Ainda que o cenário seja desafiador, grandes marcas têm adotado compromissos ambientais. 

A Nike, por exemplo, pretende reduzir 70% das emissões de gases do efeito estufa até 2025, utilizando energia 100% renovável. 

Já a Adidas registrou 5,3 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2024, mas planeja que 10% do poliéster utilizado venha de resíduos têxteis até 2030. 

Por fim, a Puma afirmou que 90% de seus produtos em 2024 usaram materiais reciclados ou certificados. 

Além disso, reduziu em 65,8% os resíduos por peça de vestuário enviados a aterros.

Portanto, apesar da força financeira da camisa de futebol, os impactos econômicos do desperdício e da pirataria exigem mudanças urgentes. 

Afinal, o prejuízo ambiental e fiscal já ultrapassa as cifras do próprio lucro.