O mercado bancário brasileiro pode estar às vésperas de uma nova onda de consolidações. A compra de 58% do capital do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), ainda no forno, anunciada no fim de abril, representa mais do que uma simples reconfiguração societária, mas sim reconfiguração e consolidação dos bancos médios no setor.
A operação, que aguarda aval do BC (Banco Central) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), é vista como estratégica tanto para o reposicionamento do BRB, quanto para a expansão nacional do Master.
A estimativa, compartilhada por fontes internas das diretorias do BRB e do Banco Master, é de que o aval do Banco Central à operação seja apenas uma questão de tempo.
Nos bastidores, a aprovação é tratada como praticamente certa, com a expectativa de que o sinal verde da autoridade monetária seja concedido já nas próximas semanas.
Para isso, BRB e Master se cercaram de cuidados jurídicos e técnicos. O banco brasiliense contratou a consultoria PwC e o escritório Lefosse Advogados, enquanto o Master se apoiou nas orientações do escritório Pinheiro Neto.
E o que vem a seguir?
Se a aprovação do Banco Central se confirmar, o acordo pode abrir um precedente para outras parcerias — especialmente entre instituições que buscam escala sem abrir mão da identidade regional.
O sucesso da operação será observado de perto por outros players do setor. A leitura é clara: se funcionar, pode desencadear uma série de novos acordos e reposicionar a disputa por espaço no sistema financeiro. Aos poucos, o tabuleiro dos bancos médios ganha mais peças — e o jogo está longe de estar decidido.
Para onde caminha o setor bancário brasileiro
A operação BRB-Master é vista por analistas como um reflexo de um movimento maior de descentralização no sistema bancário. O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, afirmou que o país vive um processo de desconcentração iniciado nos últimos anos.
“O mercado brasileiro era muito concentrado, mas o BC iniciou uma agenda clara de ampliação da pluralidade no setor bancário”, disse em entrevista ao CNN Money.
Essa agenda inclui estímulos à entrada de novos players, modernização tecnológica e incentivo à concorrência entre bancos médios e digitais. A fusão entre BRB e Master se insere exatamente nesse contexto, onde instituições de médio porte buscam ganhar musculatura para competir com os grandes.
Uma nova onda de fusões?
O histórico de fusões bancárias no Brasil mostra que movimentos desse tipo não são inéditos — mas costumam gerar impactos duradouros. Após o Plano Real e a privatização dos bancos estaduais nos anos 1990, o setor passou por uma intensa fase de consolidação. Casos emblemáticos como a união entre Itaú e Unibanco (2008), a compra do ABN Amro Real pelo Santander (2007) e o avanço do Bradesco sobre o BBVA (2003) moldaram o atual mapa bancário.
Veja algumas das principais fusões dos últimos 30 anos
Ano | Fusão / Aquisição | Valor e Impacto |
---|---|---|
2008 | Itaú + Unibanco | Criou o maior banco privado da América Latina |
2007 | Santander + ABN Amro Real | Maior aquisição do setor na época (R$ 181 bi) |
2006 | Itaú + BankBoston | Reforço ao segmento de alta renda |
2003 | Bradesco + BBVA | Consolidação no varejo bancário |
2000 | Santander + Banespa | Marco da privatização dos bancos estaduais |
Uma fusão na mira do BC
Antes de qualquer celebração, porém, o negócio ainda precisa passar pelo crivo do BC, que historicamente analisa fusões com base em critérios como risco sistêmico, concorrência e viabilidade financeira das partes envolvidas.
Segundo apuração da Veja, o pedido formal ainda será protocolado — mas a estrutura da negociação já está desenhada: o BRB comprará 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Banco Master, totalizando o controle de 58% do capital.
O preço da transação será calculado com base em 75% do patrimônio líquido consolidado do Master, considerando os ajustes recomendados por auditoria independente. Em comunicado, o BRB afirmou que todas as etapas seguiram rigorosamente os padrões exigidos para operações dessa natureza.