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MPF e PF investigam esquema de pirâmide da TSR Investimentos

A vítima relata que as promessas eram de lucros garantidos, enquanto as operações aconteciam em um simulador, sem conexão com o mercado real

Foto: Divulgação
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O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) estão investigando a TSR Investimentos, empresa comandada por Ariel Fernandes — conhecido nas redes como ArielCNPI — por suspeita de operar um esquema de pirâmide financeira. O inquérito foi instaurado após denúncia de um investidor lesado, que falou com exclusividade ao BP Money e relatou como funcionava o suposto golpe.

“Vejo fortes indícios de que a TSR Investimentos atua como uma pirâmide financeira, uma vez que a sustentabilidade dos pagamentos depende da entrada de novos investidores”, afirmou o denunciante.

Segundo a vítima, que pediu anonimato, após pagar cerca de R$ 20 mil para ter acesso aos planos “Master” e “T-70”, recebeu promessas de lucros mensais garantidos, acesso a uma mesa proprietária e repasses fixos por meio de um sistema de trading.

No entanto, todas as operações ocorriam em um simulador sem conexão com o mercado real. Mesmo quando conseguia lucro no ambiente simulado, não havia retorno financeiro efetivo — e os pagamentos, quando ocorriam, eram sustentados por dinheiro de novos participantes.

De acordo com os documentos obtidos pela reportagem, a empresa é suspeita de atuar como instituição financeira sem autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou do Banco Central, além de negociar produtos financeiros sem o devido registro e movimentar recursos de terceiros de forma irregular. Há ainda indícios de fraude, propaganda enganosa e venda casada de produtos dentro da plataforma.

Em despacho, o delegado federal Luciano Emilio Moreira determinou diligências para apurar o funcionamento da TSR, levantar antecedentes criminais do sócio-administrador Ariel Fernandes e solicitar à CVM informações sobre a regularidade das atividades da empresa.

A CVM, em resposta ao BP Money, informou que em casos de possíveis infrações “mantém acordo de mútua cooperação e intercâmbio de informações com diversas instituições, tais como Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF), que visam a prevenção e o combate a ilícitos contra o mercado de capitais nas esferas administrativa, civil pública e criminal. Reforçamos que a CVM não comenta casos específicos”.

Em nota, a empresa negou qualquer irregularidade relacionada aos fatos mencionados na reportagem.

O caso segue sob apuração e, se confirmadas as irregularidades, os envolvidos poderão ser responsabilizados por crimes financeiros, estelionato e formação de pirâmide, com punições previstas nas esferas cível, administrativa e criminal.

Relatos de insatisfação se acumulam em sites de reclamação

Além da denúncia que deu origem à investigação da PF e do MPF, usuários também vêm relatando publicamente problemas com a TSR Investimentos em plataformas como o Reclame Aqui.

As queixas envolvem desde a negativa de reembolso até promessas não cumpridas e cobranças recorrentes para conteúdos considerados genéricos.

Em um dos relatos, um cliente afirmou ter solicitado o cancelamento de uma mentoria após receber diagnóstico psiquiátrico e orientação médica para se afastar de atividades de alto estresse, como o trading:

“Devido a circunstâncias graves e excepcionais de saúde, entrei em contato diretamente com a TSR Trading para solicitar o reembolso integral do valor pago, esclarecendo que não consumi o conteúdo. […] Apesar de reconhecerem minha situação clínica, limitaram-se a oferecer uma extensão do acesso, o que não resolve o problema”, escreveu.

Em outro comentário, um usuário relata ter sido atraído por promessas de sucesso rápido e lucros com day trade, mas afirma ter sido surpreendido por cobranças adicionais:

“Prometem mudar sua vida, mas na verdade exploram a condição financeira de muitos. Paguei R$ 5 mil e depois me pediram mais para entrar em outro grupo. Disseram que os testes no simulador eram ilimitados, mas depois cobraram R$ 599 para refazer. Me senti completamente [Editado pelo Reclame Aqui]”.

Os relatos reforçam a linha de investigação das autoridades, que apuram se o modelo de negócios da TSR se sustenta em estratégias agressivas de vendas, promessas enganosas e uso de simuladores como fachada para captar novos recursos.