Suzano sob alerta

Tarifaço de Trump ameaça consumo de celulose brasileira

Medida anunciada pelo presidente americano afeta exportações brasileiras e pressiona logística e margens da Suzano, que responde por 55% do mercado de celulose nos EUA

Foto: Suzano/Divulgação
Foto: Suzano/Divulgação

A imposição de uma tarifa de 50% sobre importações vindas do Brasil anunciada pelo governo americano, conforme carta assinada pelo presidente Donald Trump na quarta-feira (9), trouxe novas incertezas para empresas do setor de papel e celulose. A Suzano (SUZB3) aparece como o principal alvo dos grupos mais vulneráveis ao tarifaço.

Relatório do Goldman Sachs

De acordo com os cálculos do Goldman Sachs, 19% das vendas líquidas da companhia estão expostas ao mercado americano, proporção considerada elevada dentro do setor e difícil de ser redirecionada no curto prazo sem custos adicionais e reorganizações operacionais.

Na avaliação do banco norte-americano, essa participação de quase um quinto da receita é sensível demais para uma realocação eficiente, especialmente porque parte dos contratos da Suzano com grandes compradores nos EUA são de longo prazo, com especificações técnicas rígidas.

O relatório aponta que, mesmo com a possibilidade de uso temporário de estoques locais, um novo equilíbrio comercial exigiria tempo e poderia gerar pressão sobre os preços. O banco também menciona que, se mantida, a política tarifária norte-americana pode incentivar compradores a buscar alternativas em países como Chile e Uruguai, além de fomentar um movimento de substituição por suprimento doméstico nos EUA.

Os números ajudam a dimensionar o tamanho da questão. De acordo com o Goldman Sachs, o Brasil exportou cerca de 2,8 milhões de toneladas de celulose de fibra curta para os EUA no ano de 2024, volume que representa 78% do consumo americano desse tipo de produto, 14% das exportações brasileiras e 7% do mercado global.

Outros riscos

A XP Investimentos também diz que vê riscos para o setor associados ao movimento tarifário. A corretora afirma que, apesar do montante de cerca de 2,8 milhões de toneladas de celulose terem sido exportadas aos EUA – equivalente a cerca de 15% do total exportado pelo Brasil – não há expectativa de alterações nos volumes no curto prazo.

O argumento principal é de que a celulose de fibra curta não é tão produzida nos EUA, o que força o país a importar grandes volumes substanciais para manter sua indústria de papel operando normalmente.

A XP também aponta que parte desses embarques poderia ser redirecionada a mercados na Ásia e Europa, embora reconheça que isso pode acarretar pressões adicionais.

Já para o Bradesco BBI, a Klabin (KLBN11) tende a sofrer pouco com a medida. As exportações da empresa para os EUA representam cerca de 2% do faturamento, porcentagem considerada irrelevante em termos financeiros. Já para a Suzano, o banco reforça os alertas.

A América do Norte responde por cerca de 17% das receitas da companhia, 19% de celulose e 9% de papel, com participação ainda mais relevante no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida, na sigla em inglês).

Segundo os analistas, a Suzano é responsável por aproximadamente 2 milhões de toneladas das 3,7 milhões consumidas de celulose na América do Norte, cerca de 55% de participação de mercado.