Inovação para fornecedores e pagadores

Duplicatas escriturais podem destravar R$ 10 tri em crédito

Obrigatórias a partir do primeiro semestre de 2026, as duplicatas escriturais podem impactar de maneira direta tanto os fornecedores quanto os grandes pagadores.

Reunião genérica em escritório (Foto: Ronald Cadonga/Pixabay)

Obrigatórias a partir do primeiro semestre de 2026, as duplicatas escriturais, versão digital versão digital e registrada da duplicata tradicional, prometem ser uma aposta do BC (Banco Central) para destravar até R$ 10 trilhões em crédito até 2027.

A mudança pode impactar de maneira direta tanto os fornecedores quanto os grandes pagadores. O objetivo da regulamentação é criar um ambiente mais transparente, seguro e auditável para as operações. Ainda hoje, muitas empresas operam com processos manuais e pouco rastreáveis, o que aumenta o risco operacional e limita a liquidez.

“A expectativa é que o novo modelo transforme a dinâmica de crédito no país, como vimos com os recebíveis de cartão. Agora, com o registro centralizado, temos mais segurança jurídica para todos os envolvidos”, afirma Ricardo Vieira, do Banco Central.

O sistema de duplicatas escriturais promete romper com um gargalo histórico do setor: atualmente, grandes sacados restringem a negociação de duplicatas pelos seus fornecedores, justamente porque o controle é complexo e repleto de riscos.

Além disso, uma mesma duplicata pode ser negociada com mais de um financiador, ou sequer ter lastro real. Com o modelo escritural, o título é registrado em uma escrituradora autorizada, o que garante unicidade, manifestação do sacado sobre o cumprimento da obrigação e liquidação apenas ao titular legítimo.

“Isso reduz significativamente o risco e, por consequência, as taxas de antecipação. Com mais segurança, o mercado tende a liberar mais crédito e a custos menores”, explica Izaias Miguel, co-CEO da V360, empresa especializada em gestão de recebíveis.

O que as duplicatas escriturais mudam para as empresas?

Após o início do registro, há um ramp-up da obrigatoriedade para bancos e fundos negociarem essas duplicatas.  A previsão é que o modelo esteja plenamente operante entre junho e outubro de 2026, com todas as funcionalidades integradas e disponíveis para o mercado.

Para os fornecedores, a duplicata escritural representa uma oportunidade concreta de ampliar o acesso a crédito com menos burocracia e juros mais baixos, um alívio importante em um cenário de aperto monetário.

Para os sacados, os impactos passam a valer a partir do início do registro, dado que eles precisarão estar prontos para processar as duplicatas registradas por seus fornecedores. “Empresas com grandes volumes de pagamento precisarão se adequar rapidamente para evitar riscos como pagamentos indevidos, divergências no domicílio bancário, contestação de notas ou até multas e sanções regulatórias”, alerta Miguel.

Embora a obrigatoriedade comece com as grandes empresas e seja escalonada ao longo do segundo semestre de 2026, os efeitos já poderão ser sentidos antes, assim que os primeiros registros forem realizados. A expectativa é que o impacto seja semelhante ao observado no mercado de recebíveis de cartão: maior pulverização do crédito, mais concorrência e taxas menores.

Como se antecipar?

Especialistas recomendam que as empresas iniciem desde já os ajustes necessários para evitar gargalos futuros. Antecipar-se à nova regra não apenas reduz riscos operacionais, como também posiciona o negócio de forma estratégica em um mercado de crédito mais aberto, competitivo e seguro.

Como preparação, os especialistas indicam a revisão de processos, estruturados de maneira auditável e compatível com as exigências da duplicata escritural; integração com plataformas de registro e capacitação interna.

 A antecipação também contribui para uma transição mais segura e eficiente, podendo inclusive posicionar o negócio de forma estratégica para aproveitar o novo mercado de crédito que se abre com o registro digital obrigatório.