Pronunciamento em rede nacional

Lula chama sobretaxa de 50% de 'chantagem inaceitável'

O presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento oficial em rede nacional de televisão na noite dessa quinta-feira (17)

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, partipa do 60 CONUNE - Congresso da União Nacional dos Estudantes, realizado na UFG. (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, partipa do 60 CONUNE - Congresso da União Nacional dos Estudantes, realizado na UFG. (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

O presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento oficial em rede nacional de televisão na noite dessa quinta-feira (17). No discurso, o presidente reagiu à ameaça de Donald Trump de taxar importações brasileiras em 50% e chamou de “chantagem inaceitável”.

“Fizemos mais de dez reuniões com o governo dos Estados Unidos e, em 16 de maio, encaminhamos uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta. O que veio foi uma chantagem inaceitável, com ameaças às instituições brasileiras e informações falsas sobre o comércio entre os dois países”, afirmou Lula no início do pronunciamento.

O presidente também criticou a tentativa norte-americana de interferência nas instituições brasileiras e acusou políticos da oposição de atuarem contra os interesses do país.

Lula também negou as acusações de práticas comerciais desleais. “Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos qualquer ataque ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo e vamos protegê-lo”, afirmou o presidente.

O governante também deixou claro que irá se valer dos instrumentos legais caso a tarifa de 50% entre em vigor no dia 1º de agosto.

Leia o pronunciamento na íntegra, retirado do InfoMoney:

Minhas amigas e meus amigos,

Fomos surpreendidos na última semana por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação de produtos brasileiros em 50% a partir de 1º de agosto. O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de dez reuniões com o governo dos Estados Unidos e, em 16 de maio, encaminhamos uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta. O que veio foi uma chantagem inaceitável, com ameaças às instituições brasileiras e informações falsas sobre o comércio entre os dois países.

Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção de inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na Justiça brasileira é um grave ataque à nossa liberdade nacional. Só uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades, garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.

A indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e com os danos causados ao nosso povo.

A defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas, nacionais ou estrangeiras, são obrigadas a cumprir as leis. No Brasil, ninguém está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crimes de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia. Esses espaços também alimentam o ódio, a violência e o bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte. Há ainda quem desacredite as vacinas, colocando em risco o retorno de doenças que já estavam erradicadas.

Estamos reunindo representantes dos setores produtivos, da sociedade civil e do movimento sindical. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, os serviços, o setor agrícola e os trabalhadores. Estamos todos juntos na defesa do Brasil. É o exemplo de cada brasileiro e de cada brasileira que acorda cedo, trabalha, cuida da família e ajuda o país a crescer.

Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo. A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações de que o Brasil pratica concorrência desleal. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, um robusto superávit comercial de 410 bilhões de dólares em relação ao Brasil. Hoje, somos referência mundial na defesa do meio ambiente. Em dois anos, reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia e estamos trabalhando para zerá-lo até 2030.

Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos qualquer ataque ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo e vamos protegê-lo.

Quando assumimos a Presidência da República, em 2023, encontramos um Brasil isolado do mundo. Em apenas dois anos e meio, nosso governo abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior. Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África e com nossos vizinhos da América Latina e do Caribe.

Se necessário, utilizaremos todos os instrumentos legais para defender nossa economia — desde recursos à Organização Mundial do Comércio até a Lei da Reciprocidade aprovada pelo Congresso Nacional.

Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono — o povo brasileiro.

Muito obrigado.