Ecossistema de inovação

Ilusão da Escassez Intelectual: Brasil não tem falta de ideia, mas sim de execução estruturada

Startups não morrem só por falta de dinheiro

Foto: unsplash
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Nos últimos anos, vi de perto centenas de projetos, MVPs e visões de fundadores que resolveriam o futuro dos pagamentos, a saúde pública e o caos logístico do país. Mas a distância entre uma solução promissora e um negócio viável ainda é abissal. O ecossistema de inovação brasileiro está maduro em criatividade e carente em capacidade de execução estruturada.

Existe uma tendência nacional de supervalorizar a originalidade e subestimar o processo. E, pior: seguimos operando sob a lógica de que startups são criações quase místicas, que nascem da genialidade de um fundador e da benevolência de um investidor, e não como negócios que precisam de arquitetura, disciplina e pragmatismo desde o dia zero.

O que se vê com frequência é a busca por um produto perfeito antes de testar e validar com os clientes; de narrativas bem embaladas antes de qualquer comprovação real no mercado; de valuations no PowerPoint sem tração que os justifique.

É possível ver um padrão perigoso: empreendedores pulando etapas críticas da fundação do negócio em prol da velocidade — ou da pressão que vem de fora. Fundos com dinheiro captado precisando investir, mas presos a regras duras de alocação, acabam acelerando promessas frágeis.

Startups não morrem só por falta de dinheiro. Morrem por excesso de decisões intuitivas mal calibradas. Morrem porque crescem sem fundação. Porque contratam sem cultura. Porque vendem sem processo. Porque pivotam sem diagnóstico.

É aqui que entra a tese das Venture Builders: construir negócios desde o início de forma estruturada, com capital social e intelectual, não só financeiro.

A lógica da Venture Builder não é substituir o fundador. É colocá-lo no centro de um ecossistema que acelera sua curva de aprendizado com gente experiente, com processos, com operação compartilhada e com accountability real.

É também uma forma de corrigir a assimetria brutal entre investidor e empreendedor. Em vez de apenas aportar capital e esperar performance, a Venture Builder atua como cofundadora estratégica — com skin in the game, operação na veia e execução no detalhe. Muito além do que incubadoras ou aceleradoras normalmente entregam.

O que defendemos é simples: não dá mais para romantizar a jornada empreendedora em um mercado que cobra performance profissional. Se é para construir algo relevante, é preciso compromisso com fundamento.

Durante muito tempo, medir sucesso foi uma questão de valuation e manchete. Mas, como o mercado já entendeu, isso é espuma. O ciclo de liquidez dos últimos anos criou distorções sérias: rodadas infladas, teses frágeis, fundadores sem governança e sem processo de entrega.

Agora, o capital está mais criterioso. O filtro subiu. E é exatamente aí que o modelo de construção empresarial baseada em metodologia e métrica faz diferença.

As empresas que vão nascer nos próximos anos não serão apenas criativas. Serão milimetricamente modeladas: com governança desde o MVP, estruturação fiscal e jurídica pensada para escalar, tecnologia como alicerce (e não enfeite), marketing orientado à aquisição, e produto construído com validação contínua.

A tese não é “vamos testar e ver no que dá”. A tese é “vamos construir como quem já sabe para onde vai”.

No final das contas, o que separa uma ideia promissora de uma empresa valiosa não é a genialidade do insight — é a robustez da execução. E a execução só se sustenta com método, curadoria, inteligência coletiva e coragem de operar com consistência, não com improviso.

As próximas empresas relevantes do Brasil não serão, necessariamente, as mais disruptivas. Serão as mais disciplinadas. Vão operar com cabeça de geração de caixa, margens saudáveis, e visão de longo prazo. Não vão se perder no barulho do hype porque estarão ancoradas em fundamentos sólidos — como qualquer empresa deveria estar, seja startup ou não.

No fim, o que falta não é ideia. É engenharia de negócio. É visão de produto com métrica, de operação com eficiência, de crescimento com controle. E, principalmente, é menos ego de fundador e mais cultura de time.

Renan Georges é CEO da Zavii Venture Builder