Belém vive uma corrida contra o tempo. Faltam apenas 100 dias para o início da COP30, maior conferência climática do planeta, e a cidade acelera os preparativos.
Com R$ 7,2 bilhões em investimentos públicos e privados, a capital paraense se transforma em tempo recorde para receber 50 mil participantes de 195 países. No entanto, essa transformação impõe desafios urgentes à população local.
Enquanto o governo federal, o estado e a prefeitura atuam de forma coordenada, os moradores enfrentam aumento de preços, especulação imobiliária e incertezas sobre o futuro da cidade.
COP30 Belém: governos dividem tarefas e aceleram entregas prioritárias
O governo federal lidera a logística internacional. O Estado do Pará investe em mobilidade e infraestrutura, enquanto a prefeitura adapta os serviços urbanos. Juntos, os entes públicos criaram comitês de gestão para agilizar decisões e garantir prazos.
A reforma do Ver-o-Peso, principal cartão-postal da cidade, alcançou 82% de conclusão. Já o Parque da Cidade, onde ocorrerão as principais atividades da conferência, está com 78% das obras prontas.
Entretanto, a macrodrenagem e o sistema de esgoto registram apenas 29% e 11% de avanço, respectivamente — o que exige atenção redobrada.
COP30 Belém: transporte sustentável avança, mas hospedagem segue crítica
Belém implementa um sistema moderno de mobilidade. A frota de 400 ônibus elétricos e híbridos já começou a operar. Além disso, o BRT metropolitano, com 85% das obras concluídas, ligará sete municípios ao centro da capital.
Por outro lado, o déficit de hospedagem ainda preocupa. A cidade possui 36 mil leitos, mas precisa de 50 mil. Para suprir essa lacuna, o governo adotou medidas emergenciais. Entre elas, estão dois navios-cruzeiro com 6 mil leitos, ampliação da oferta pelo Airbnb, readequação de escolas e criação da Vila COP30. Mesmo assim, a acomodação de todos os visitantes permanece incerta.
Inflação e especulação impactam quem já vive na cidade
A preparação para a COP30 trouxe efeitos colaterais. O custo de vida disparou. A castanha-do-pará subiu 271%, e outros alimentos típicos, como cupuaçu e açaí, também ficaram mais caros. O aluguel, por sua vez, chegou a triplicar em algumas regiões.
Como consequência, estabelecimentos tradicionais fecharam as portas. O bar Suíço, com 55 anos de história, não resistiu ao reajuste de R$ 3.600 para R$ 10 mil. O governo estadual admite a dificuldade em controlar preços abusivos, mas intensificou ações do Procon e firmou acordos com o setor hoteleiro para manter tarifas acessíveis.
Capacitação e políticas verdes ganham força com a conferência
Apesar das dificuldades, a COP30 gera resultados positivos. O Pará criou o programa Capacita COP30, que já qualificou 22 mil profissionais em cursos gratuitos voltados ao turismo. Mais de 140 alunos foram contratados por empresas parceiras, como Coca-Cola e Cielo.
Além disso, o estado fortaleceu sua política ambiental. Reduziu em 28,4% o desmatamento e lançou o programa Pará Sem Fogo, com monitoramento em tempo real e combate estruturado a queimadas. A nova Lei de Responsabilidade Ambiental garante repasse direto de recursos da mineração e da água para projetos ecológicos.
Nas escolas, mais de 550 mil estudantes passaram a ter aulas obrigatórias sobre clima, sustentabilidade e preservação. A medida, inédita no Brasil, visa formar novas gerações de defensores da Amazônia.
População desconhece a conferência, mas espera resultados concretos
Embora a COP30 mobilize estruturas gigantescas, 71% dos brasileiros ainda não sabem o que o evento significa, segundo pesquisa do Instituto IDEIA. Para especialistas, o governo precisa conectar a pauta climática ao cotidiano da população, tornando-a mais tangível.
Nesse contexto, a missão vai além da entrega das obras. A COP30 chegará em novembro — com ou sem todos os leitos prontos, com ou sem todos os canais limpos, com ou sem preços controlados. O que se define agora é se a Belém que surgirá depois da conferência ainda será reconhecida por seus próprios moradores.