A cada segundo, uma taça de vinho é servida em algum lugar do mundo por meio de um dispositivo criado por um engenheiro biomédico americano.
O Coravin, método que permite servir vinho sem tirar a rolha, se tornou um negócio lucrativo, com milhões de unidade vendidas, mais de 300 milhões de copos servidos e um negócio com um faturamento de mais de US$ 100 milhões.
“Agora posso servir taças de vinho de diferentes garrafas de uma só vez. Isso mudou a forma como eu e muitas pessoas bebemos vinho”, disse Guga Lambrecht, criador do equipamento, ao Bloomberg Línea em recente visita a São Paulo.
Breve histórico da Coravin
Em 2011, Lambrech fundou a Coravin, após 12 anos de experimentos. A ideia surgiu após, o biomédico, em 1999, estar segurando uma agulha de quimioterapia em uma mão e uma garrafa de vinho na outra. Ele queria beber somente uma taça, mas não queria abrir a garrafa e perder o que sobrasse da bebida, que se degrada rapidamente.
O que começou como uma frustração pessoal, após 12 anos e milhares de testes depois, a forma como muitos tomam vinho mudou. A sua criação está presente em mais de 60 países, de restaurantes estrelados e casas de entusiastas.
“Sou nerd, estudei latim por cinco anos. Coravin quer dizer ‘coração do vinho’ – que é o que eu queria acessar: sua essência”, disse.
O equipamento logo ganhou o espaço entre sommeliers, colecionadores e restaurantes de alta gastronomia.
O modelo original, chamado Timeless, funciona como uma agulha ultrafina que atravessa a rolha, injeta argônio na garrafa e permite extrair o vinho sem a entrada de oxigênio. Ao retirar a agulha, a rolha se fecha novamente, mantendo a vedação e a preservação da bebida.
Hoje a empresa emprega cerca de 70 pessoas e atua em mais de 60 países. São milhões de unidades vendidas e, de acordo com Lambrecht, mais de 300 milhões de taças de vinho já foram servidas com o dispositivo.
A empresa não divulga o faturamento anual exato, mas está em torno de “US$ 100 milhões, com margem EBITDA entre 10% e 30%”, segundo o fundador.
A empresa desenvolveu três sistemas principais: o Timeless (original), o Pivot (mais acessível, criado a pedido de um restaurateur australiano, ideal para vinhos com tampas de rosca ou rolhas plásticas) e o Sparkling, para espumantes, que usa CO2 ao invés de argônio.
Fonte da ideia inovadora: Greg Lambrecht
Construindo sua carreira na medicina, desenvolvendo equipamentos e implantes cirúrgicos para empresas como Johnson & Johnson e Pfizer. Greg também cultivava uma grande paixão por vinhos. “Mesmo bebendo pouco, queria experimentar de tudo. Mas abrir uma garrafa significava ter que terminá-la ou desperdiçar”, contou.
Essa limitação se intensificou quando sua esposa engravidou no final dos anos 1990. Sem companhia para beber, começou a imaginar soluções.
“Eu trabalhava muito com agulhas na área de medicina e me peguei pensando em como usar uma delas para furar a rolha sem abrir a garrafas”, contou.
Durante mais de uma década, ele conciliou acompanhamento de cirurgias e pesquisas em laboratórios com experimentos no porão de casa, investindo cerca de US$ 80 mil do próprio bolso.
Testou diferentes agulhas, pressões, tipos de rolha e uma variedade de gases – até chegar ao argônio, inerte e sem impacto sensorial. O processo envolveu muitas garrafas de vinho e testes às cegas conduzidos por amigos e especialistas.
“Com minha experiência científica, fiz os primeiros protótipos de forma artesanal e criei um ‘teste clínico’ neste processo, com uma série de degustações às cegas. Um amigo dizia: ‘isso nunca vai funcionar com um Riesling’. Então, eu comprava seis garrafas de Riesling para testar. Assim fui de 30 para 4.800 garrafas diferentes em casa muito rapidamente”, disse ao portal.
Mais do que uma ferramenta de consumo, Lambrecht defende que o Coravin (ou “Coravã”) promove uma mudança de mentalidade. Ele viabiliza o consumo de vinho em taça sem desperdício, reduz o risco de abrir uma garrafa cara e se tornou aliado de restaurantes para ampliar a oferta e melhor a margem.
“Há um esforço de educação. Precisamos mostrar que servir vinho por taça pode ser seguro, lucrativo e prazeroso. E que o vinho não precisa ser consumido todo de uma vez”, disse.