
Em meio às tensões provocadas pelas tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem intensificado esforços para estreitar laços com outras nações. Recentemente, a China liberou 183 empresas do Brasil para exportar café, em um movimento interpretado como uma resposta ao chamado “tarifaço” dos EUA.
Analistas ouvidos pelo BP Money apontaram que esse estreitamento de laços traz algumas oportunidades ao Brasil, como a consolidação de mercados agrícolas e minerais, a diversificação das receitas exportadoras e a atração de investimentos para cadeias sustentáveis ou de baixo carbono — como energia renovável e mineração crítica.
Além disso, Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, afirmou que o cenário também possibilita o “aproveitamento do deslocamento de fluxos comerciais de terceiros países”, uma vez que mudanças nos fluxos globais podem beneficiar setores brasileiros como soja, carne, madeira e minério.
Contudo, apesar do tom otimista, essa aproximação com a China também carrega riscos — como eventuais represálias políticas e comerciais por parte dos EUA.
O Brasil já enfrenta pressão interna devido ao aumento de importações chinesas de baixo custo, que ameaçam a indústria nacional em setores como têxteis, eletrodomésticos e pneus. Há ainda o risco de uma dependência excessiva de um único parceiro geoeconômico, o que pode tornar o país vulnerável a mudanças na política chinesa ou a uma desaceleração daquele mercado.
Há espaço para essas relações, diz analista
Na avaliação de Stefânia Ladeira, especialista em comércio exterior e gerente de produtos da Saygo Comex, há bastante espaço para a ampliação das relações com países como a China. “Talvez alguns países que hoje exportam para a China e passem a enfrentar tarifas menores nos EUA se tornem mais atraentes para o mercado americano. Isso pode abrir caminho para que o Brasil exporte mais para a China. Porém, é preciso acompanhar de perto, pois essa lógica não se aplica automaticamente a todas as indústrias”, comentou.
Ou seja, há uma justificativa estratégica para o Brasil acelerar sua aproximação com a China. A ação pode reconfigurar suas parcerias comerciais, movimento que já vem sendo observado desde 2024.
Reconfiguração das Parcerias Comerciais do Brasil
“Além disso, o cenário poderá estimular acordos regionais, o avanço das negociações entre Mercosul e União Europeia, uma maior aproximação com México e Canadá e a reorientação de cadeias globais em busca de realocação produtiva para regiões como a América do Sul”, acrescentou Patzlaff.