Entrou em vigor nesta quarta-feira (6) a tarifa de 50% dos EUA sobre produtos importados do Brasil. Diante deste contexto complexo, em que o canal bilateral entre Brasil e EUA está se tornando insuficiente e extremamente afetado por desavenças políticas, especialistas entrevistados pelo BP Money comentaram que diversificação de mercados é uma medida obrigatória para passar por essa situação – além, claro, da diplomacia.
Um dos pontos positivos dessa estratégia é diminuir a dependência de um único destino para as exportações do Brasil. “Quanto menos dependência de um único destino de exportações, melhor para o Brasil. Nós temos produtos que são praticamente únicos, ou nós somos, digamos que, os principais produtores no mercado mundial, principalmente do agronegócio, ele tem aumentado a demanda muito grande”, disse o economista André Mirsky.
A ideia também foi defendida por Gabriel Senna, economista e Gestor Patrimonial da Adivsor’s Society, que detalhou possibilidades. “Cerca de 45 a 50% dos produtos brasileiros destinados aos EUA foram isentados pela tarifa — como suco de laranja, café, aeronaves (Embraer), e energia. A diversidade geográfica dos compradores e os acordos bilaterais com Europa, Índia e países do Sul Global oferecem alternativas: mercados de carne, café, minério e aerolevantados podem realocar vendas”
A UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), inclusive, recomenda a redução de dependência de mercados únicos para tornar economias emergentes mais resilientes.
Apesar de diversificar mercados ser uma boa ideia, o processo não é tão fácil e rápido. Sérvulo Mendonça, chairman da Holding SM, explicou que o desafio não é apenas prático, mas também conceitual. Segundo ele, para que a diversificação seja efetiva, são necessários inteligência contábil, planejamento fiscal contínuo e uma estrutura organizacional capaz de lidar com a complexidade.
“É justamente aí que a reforma tributária, cuja transição começa já em 2026, cria um cenário ainda mais sensível. À medida que novos tributos, como a CBS e o IBS, substituírem gradualmente os atuais, e que a lógica de incidência se deslocar da origem para o destino, empresas que tentarem se reinventar sem um mapeamento detalhado dos impactos tributários poderão se ver perdidas em um emaranhado de obrigações acessórias, regras de creditamento e margens que evaporam silenciosamente” explicou Mendonça. “Diversificar sem ter domínio sobre os efeitos da nova arquitetura fiscal será como abrir mercados com os olhos vendados e o custo do erro será alto”, concluiu
Possíveis parceiros do Brasil
A China já começou a dar sinais de aproximação com o Brasil após o anúncio do tarifaço. Recentemente, o país liberou 183 empresas do Brasil para exportar café, um dos itens de exportação brasileiros que não entrou na lista de isenções. Atualmente, o país asiático é responsável por cerca de 28% das exportações do Brasil, os EUA são responsáveis por 12%.
Eduardo Brasil, sócio do escritório Fonseca Brasil, citou um histórico de redirecionamento viável, na visão dele: “em 2019 parte do aço barrado pelos EUA foi realocado para a Ásia, e estudos da XP e da Goldman indicam que os produtos hoje tarifados representam menos de 36% do que o Brasil vende para o mercado norte-americano, o que permite desvio gradual”
Brasil também comentou que o Itamaraty está discutindo acelerar a ratificação do acordo Mercosul-UE, ampliar linhas do BNDES para Ásia e África e negociar preferências com Índia e países do Golfo. “Demanda antiga do agronegócio”, completou.
Diversificar também os investimentos
Para os investidores, a diversificação de carteira não é uma novidade e também é indicada por especialistas no atual contexto.
“A diversificação sempre foi o melhor meio de compor uma carteira e com esta crise que assola o Brasil, o ideal é diversificar ainda mais os ativos em moeda estrangeira, principalmente o dólar” comentou Marcos Poliszezuk, sócio fundador do Poliszezuk Advogados.
A fala de Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, corrobora o ponto de vista do colega e incentivou os investidores a procurar além de empresas exportadoras muito expostas aos EUA (como agronegócio de mineração)
“Do ponto de vista do investidor, diversificar também entre tipos de ativos ajuda […] buscar balanços com exposição internacional, por exemplo, fundos que invistam em mercados emergentes ou em setores menos vulneráveis a tarifas. Títulos públicos indexados à inflação, setores de serviços domésticos ou infraestrutura também podem equilibrar o portfólio nesse momento”, concluiu.