Finanças regenerativas

Blockchain: Dominó do Bem conecta ONGs a doações via cripto

Iniciativa liderada por Luisa Calixto une tecnologia e impacto social para transformar o financiamento do terceiro setor

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

Em um ecossistema digital ainda marcado por desconfianças, o projeto Dominó do Bem aposta na tecnologia blockchain para resgatar a confiança e ampliar a captação de recursos por organizações do terceiro setor.

A plataforma, que permite doações em stablecoins diretamente para carteiras digitais de ONGs, foi criada pela Sherlock Communications e é liderada por Luisa Calixto, pesquisadora da Broadminded, braço de pesquisa da agência.

“O Dominó do Bem nasceu a partir do nosso trabalho com o Lupa do Bem, um portal que dá visibilidade a projetos sociais”, explica Luisa.

“Percebemos que uma das maiores dores dessas organizações é a captação de recursos, e decidimos unir nosso conhecimento em cripto e Web3 para criar uma alternativa confiável e transparente.”

A proposta é simples: conectar doadores e projetos sociais por meio de doações rastreáveis em criptomoedas.

Para isso, as ONGs passam por um processo de curadoria e recebem orientação para se adaptar ao uso da tecnologia, como a criação de carteiras digitais e o entendimento de conceitos como autocustódia, blockchain e conversão de ativos digitais em moeda corrente.

Segundo Luisa, uma das principais vantagens da blockchain nesse contexto é a rastreabilidade das transações, o que permite que tanto doadores quanto organizações acompanhem em tempo real o caminho do dinheiro.

“A auditabilidade é uma característica técnica da blockchain, e ela pode ser fundamental para restaurar a confiança nesse setor”, afirma.

Atualmente, o Dominó do Bem conta com 11 ONGs cadastradas e 14 campanhas ativas, com foco inicial no eixo Rio–São Paulo. A meta, no entanto, é ambiciosa: alcançar o Brasil inteiro e, futuramente, expandir para a América Latina.

A plataforma já está disponível em três idiomas — português, inglês e espanhol — e visa atender tanto projetos sociais quanto causas ambientais, dentro do conceito de finanças regenerativas.

“O movimento de finanças regenerativas busca utilizar o sistema financeiro para reconstruir o tecido social e ambiental”, explica.

“Estando no Sul Global, é impossível falar de regeneração sem falar também de desigualdade, pobreza e acesso.”

Desafios de adoção e inclusão digital

Apesar do potencial da tecnologia, Luisa reconhece que a adesão à blockchain ainda enfrenta barreiras. Segundo ela, muitos projetos sociais não estão familiarizados com os conceitos básicos do universo cripto.

Por isso, a equipe do Dominó do Bem oferece suporte técnico, reuniões explicativas e materiais educativos desde o cadastramento até a conversão das doações em moeda corrente.

“Hoje, o principal desafio é fazer com que as ONGs entendam que essa tecnologia é mais uma alternativa para diversificar e fortalecer a carteira de doações”, afirma.

Além das questões técnicas, Luisa também chama atenção para os desafios sociais dentro do próprio setor de tecnologia.

“Ser mulher na tecnologia já é desafiador. Ser uma mulher preta, mais ainda. Mas já existe um movimento consciente de tornar esse mercado mais plural”, diz.

“Se queremos desenvolver soluções reais, precisamos de múltiplas visões de mundo. Do contrário, a tecnologia se torna obsoleta.”

Para ela, o uso da blockchain no terceiro setor é uma evolução inevitável.

“Estamos vendo, cada vez mais, casos reais de uso da tecnologia. O impacto social é o próximo passo natural.”