CFOs abraçam a revolução da IA: uma mudança cultural e operacional profunda

. Hoje, quase quatro em cada cinco CFOs utilizam a IA para embasar decisões de negócio

Foto: Freepik
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A adoção da inteligência artificial (IA) pelos diretores financeiros (CFOs) deixou de ser uma tendência distante ou uma aposta cautelosa. Pesquisa recente da Salesforce mostra que apenas 4% dos CFOs mantêm postura conservadora em relação à tecnologia — uma queda drástica em comparação aos 70% que se mostravam cautelosos em 2020 e aos 34% que ainda avançavam lentamente em 2023. Hoje, quase quatro em cada cinco CFOs utilizam a IA para embasar decisões de negócio, evidenciando que a tecnologia se tornou ferramenta estratégica e indispensável.

Mais do que inovação tecnológica, a IA representa uma transformação cultural, operacional e organizacional. Robin Washington, Chief Operating and Financial Officer da Salesforce, destaca que a revolução da IA envolve pessoas, processos e tecnologia. A era dos gestores que supervisionam exclusivamente equipes humanas está chegando ao fim: agentes inteligentes já trabalham lado a lado com profissionais, operando de forma autônoma, acelerando decisões e elevando a precisão das análises.

Segundo a pesquisa, CFOs destinam cerca de 25% de seus orçamentos de IA a agentes encarregados de tarefas repetitivas e rotineiras, liberando as equipes para se concentrarem em análises e decisões estratégicas. Para 75% dos executivos, esses agentes não apenas reduzem custos, mas também impulsionam receitas. Entre as atividades mais delegadas à IA estão avaliação de riscos, previsão financeira e gestão de despesas — áreas vitais para a saúde das corporações.

Jamie Miller, Chief Finance and Operations Officer do PayPal, observa que a revolução da IA está diretamente associada a ganhos expressivos de velocidade e produtividade. Tradicionalmente, o trabalho financeiro era dividido em 80% do tempo dedicado à manipulação de dados e apenas 20% à análise de impacto. A promessa da IA é inverter essa lógica, permitindo que profissionais dediquem mais tempo à análise estratégica e aumentem sua capacidade de influenciar mudanças relevantes nos negócios.

Um ponto de atenção para CFOs de multinacionais é o transfer pricing (precificação de transferência) — método usado para definir preços de bens e serviços em transações internacionais para fins fiscais. Com sinais recentes de maior rigor na fiscalização por parte das autoridades americanas, mesmo diante da redução na força de trabalho do IRS, as empresas precisam estar preparadas para lidar com essa complexidade. Nesse cenário, a IA pode ser uma aliada poderosa.

A adoção da inteligência artificial pela liderança financeira vai muito além da automação de tarefas. É uma mudança estrutural que redefine o papel do CFO, transforma processos e exige uma nova cultura organizacional baseada na colaboração entre humanos e máquinas inteligentes. O desafio é abraçar essa transformação com equilíbrio, garantindo governança, transparência e foco em resultados sustentáveis.

*Fernando Nery é CEO da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos usada por mais de 4.000 empresas na América Latina.