Violência é um dos principais fatores

Brasil deve perder 50% dos milionários em 2025, diz estudo

Um dos principais motivos para o aumento da saída de milionários no Brasil é a preocupação com a segurança

Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

O Brasil tem se tornado menos interessante para famílias de alta renda. Um estudo da Henley & Partners, uma consultoria que ajuda milionários a se realocarem no exterior, estima que 1.200 milionários (pessoas que possuem um patrimônio pessoal acima de US$ 1 milhão) planejam deixar o país neste ano.

O número é 50% superior ao registrado no ano de 2024. Uma outra estimativa, do Instituto Millenium, indica que quase um quinto dos milionários deixou o país nos últimos dez anos

Segundo o estudo da Henley & Partners, entre os países analisados, o Brasil ocupa a sexta posição que mais deve perder milionários. Reino Unido (16,5 mil), China (7,8 mil), Índia (3,5 mil), Coreia do Sul (2,4 mil) e Rússia (1,5 mil), estão à frente do país. 

O impacto econômico que os milionários levariam para o exterior seria de, aproximadamente US$ 8,4 bilhões, ou R$ 46 bilhões de reais, de acordo com o estudo.

Leonardo Chagas, especialista em investimentos e gestão de patrimônio e que contribuiu com o Instituto Millenium, afirma que a perda vai além do dinheiro, já que o país perde cérebros.

“Vão embora empresários, executivos e investidores com experiência para criar negócios e inovar. Essa ‘fuga de cérebros’ enfraquece o ecossistema de startups e a capacidade do país de competir globalmente”, afirma. 

Além disso, na visão do especialista, a saída da elite envia uma péssima mensagem a investidores estrangeiros. A lógica é simples: se os próprios brasileiros estão desistindo do país, por que alguém de fora deveria investir aqui? Dessa maneira, a fuga das pessoas de alta renda aumenta a percepção de risco e afasta o capital externo do país.

Violência é uma das principais razões

Dentre os motivos para o êxodo, a falta de segurança é uma das principais. Chagas afirma que a violência generalizada força essas famílias a viverem com medo, mesmo investindo em carros blindados e condomínios fechados.

“A preocupação com a segurança dos filhos costuma ser o gatilho final para a mudança”, afirma.

Além da violência, outros fatores também contribuem. Segundo a Henley & Partners, preocupações financeiras, impostos, aposentadoria, oportunidades de trabalho, educação e padrão de vida influenciam nesta decisão.

Muito imposto e pouco retorno

Leonardo Chagas, do Instituto Millenium, ainda afirma que há uma forte percepção de que há distorções no “contrato social”. “Pagam altos impostos [as pessoas de alta renda], mas não recebem bons serviços públicos em troca. Por isso, arcam com custos duplicados de saúde, educação e segurança”, afirma.

Outro fator relevante é a instabilidade política e econômica do país. Nesse sentido, Chagas elenca as mudanças de regras a todo momento e a volatilidade da moeda, que geram um “cansaço profundo”. “No fim, a decisão é uma busca por paz, previsibilidade e um futuro mais estável para a próxima geração em países como EUA e Portugal”, afirma.

Segundo o Millenium, entre 2014 e 2024, o Brasil perdeu 18% de seus milionários. 

Leonardo Chagas diz que o movimento drena a economia e gera a perda de capital. Além disso, o dinheiro que sai deixa de financiar novas empresas, gerar empregos ou movimentar o mercado imobiliário e de consumo.

“O governo perde contribuintes importantes e o dinheiro que eles gastariam em produtos e serviços. Esse rombo fiscal limita a capacidade do Estado de investir em melhorias, criando um ciclo vicioso”, explica o especialista.

Por fim, a saída dos milionários ainda enfraquece o mercado de luxo e os serviços qualificados, como arquitetura e gestão de patrimônio, prejudicando a manutenção e expansão desses setores.

Principais destinos

Apesar da estabilidade, nações como os EUA, Portugal e Itália têm criado barreiras para dificultar a entrada de estrangeiros, mesmo famílias de alta renda. Desse modo, os brasileiros têm procurado outros destinos, sendo muitos alternativos.

Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, lideram o ranking da Henley & Partners de nações que recebem famílias de alta renda. De acordo com a instituição, o imposto de renda zero para pessoas físicas, a infraestrutura de classe mundial, a estabilidade política e a estrutura regulatória contribuem para a liderança do país.

Surgem em seguida, os EUA, Itália, Suíça, Arábia Saudita, Portugal, Grécia, Canadá e Austrália.