Embate internacional

China admite comprar mais soja dos EUA do que do Brasil

País asiático sinaliza que comprará mais soja do principal concorrente do Brasil no setor, os EUA

Presidente da China, Xi Jinping. Foto: Reprodução
Presidente da China, Xi Jinping. Foto: Reprodução

Em meio a uma disputa entre Brasil e EUA pelo mercado chinês de soja, o embaixador da China em Washington, Xie Feng, defendeu uma ampliação da parceria entre China e EUA. Atualmente, a commodity brasileira atende aproximadamente 70% da demanda do país asiático, enquanto os americanos suprem uma fatia de pouco mais de 20%.

“Na soja, podemos observar a natureza mutuamente benéfica da relação econômica e comercial entre China e EUA”, disse o embaixador na última sexta-feira (22) durante um café da manhã entre representantes dos dois países. “Essa cooperação beneficiou nossos dois países e o mundo inteiro. Precisamos de mais, não de menos.”

O evento foi organizado pelo Conselho de Exportação de Soja dos EUA e pela Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Alimentos, Produtos Nativos e Subprodutos Animais, com a participação de associações industriais, empresas agrícolas e acadêmicos chineses e americanos.

“Como maior importador e exportador mundial de produtos agrícolas, respectivamente, China e EUA são parceiros. Durante anos, a China permaneceu como o principal destino dos produtos agrícolas americanos, e metade da soja americana exportada foi vendida para a China”, lembrou o embaixador.

A China é o principal importador de soja e o maior mercado consumidor do mundo. O país representa 61,1% de todas as compras do grão no mercado mundial. O alto volume é devido ao uso intenso do insumo para produção de ração animal, na qual o país destina à suinocultura e à avicultura do país. 

A demanda chinesa é suprida por apenas 15% da produção nacional, dependendo em 85% de grãos importados.

No ano passado, segundo a Administração Geral das Alfândegas da China, o país gastou US$ 52,8 bilhões com a importação de 105,03 milhões de toneladas da commodity, das quais 71,1% (74,6 milhões) do total, partiram do Brasil, e 22% (ou 22,1 milhões) dos EUA.

De acordo com a agência britânica de notícias, a Reuters, em meio às tensões comerciais entre Washington e Pequim, a China ainda não importou nenhum grão americano para o quarto trimestre de 2025.

Brasil domina vendas de soja à China

De acordo com os dados oficiais chineses, os EUA historicamente atenderam a maior parte da demanda do país asiático por soja até 2012 e, a partir do ano seguinte, o Brasil passou a superar as exportações americanas.

As vendas dos países ocidentais mantiveram-se próximas até 2016, quando o Brasil superou os EUA, correspondendo a 45,7% das compras chinesas, enquanto os EUA responderam por 40,4%.

Em 2017, primeiro ano do mandato de Donald Trump como presidente americano, a participação do Brasil nas importações de soja da China subiram para 53,3%, e a fatia americana decaiu para 34,4%.

Na época, Donald Trump já defendia a tarifação de produtos estrangeiros como forma de retaliação a países por práticas desleais com os EUA. 

Em 2018 aconteceu a grande virada brasileira, quando a primeira rodada de tarifas sobre mercadorias chinesas foi de fato implementada. Pequim retaliou taxando produtos americanos, e um dos alvos principais foram commodities agropecuárias, em particular a soja, o principal item agrícola exportado para o território chinês.

Com as novas tarifas sobre a soja americana, o Brasil saiu beneficiado, já que os importadores da China precisavam buscar fornecedores alternativos. Com isso, o Brasil passou a vender grandes volumes ao país asiático. Naquele ano, a participação brasileira no mercado de soja chinês chegou a 75,1%, enquanto os americanos ficaram com a fatia de 18,9%.

Acordo comercial entre China e EUA por soja

EUA e China encontram-se no momento no meio de uma trégua na guerra comercial iniciada pouco após Trump assumir o governo, que levou a uma escalada vertiginosa e sem precedente de barreiras tarifárias recíprocas anunciadas por ambos os países.

Dois dias antes de encerrar o prazo para a suspensão das tarifas, em 10 de agosto, Trump pediu publicamente à China que “quadruplique rapidamente” suas compras de soja dos americanos. A declaração foi feita ainda apenas quatro dias após entrar em vigor o tarifaço americano de 50% sobre produtos brasileiros.

Embora o presidente americano não tenha citado o Brasil na postagem, uma alta nas compras da soja americana implicaria em uma redução da participação da commodity brasileira.

Um dia após a declaração de Trump, China e EUA prorrogaram por mais 90 dias, até 12 de novembro, a redução temporária das tarifas recíprocas, enquanto negociam um acordo comercial.