Energia e combustíveis

Preço do combustível cai, mas passagens seguem pressionadas

Combustível representa 36% dos custos das aéreas no Brasil; especialistas apontam repasse gradual e condicionado à demanda

Petrobras
Petrobras / Foto: Divulgação

A Petrobras (PETR4) anunciou em 1º de setembro uma redução de 3,7% no preço médio do querosene de aviação (QAV) vendido às distribuidoras, equivalente a R$ 0,13 por litro. O ajuste, realizado no início de cada mês, reflete as variações do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio.

No acumulado de 2025, o combustível está 3,9% mais barato em relação a dezembro de 2024, segundo a estatal.

O QAV responde por cerca de 36% dos custos operacionais das companhias aéreas no Brasil — acima da média global de 31%.

Embora a redução traga algum alívio financeiro, especialistas ponderam que o efeito nas tarifas tende a ser moderado e gradual.

“Uma queda de 3,7% no QAV implica, de forma simplificada, um alívio potencial em torno de 1,3% no custo total, antes de considerar fatores como câmbio, contratos, estoques e hedge. Isso ajuda, especialmente em rotas de menor competição, mas está longe de ser um game changer”, explica Ângelo Belitardo Neto, diretor de Gestão da Hike Capital.

Segundo ele, o repasse para as tarifas é assimétrico: aumentos de custos são repassados rapidamente, mas reduções levam mais tempo a aparecer.

“A tarifa aérea é definida por gestão de receita. Quando o custo sobe, as empresas elevam os pisos para proteger a margem; quando cai, a redução tende a ocorrer de forma gradual, condicionada à ocupação, à concorrência e às metas de yield”, diz.

Fatores que influenciam os preços

Procurada, a Azul (AZUL3) afirmou que diversos fatores influenciam os valores das passagens, além do combustível.

“A dinâmica de preços no mercado de aviação sofre influência de uma série de fatores importantes, como trecho, sazonalidade, compra antecipada e disponibilidade de assentos. Questões externas, como a alta do dólar e o preço do combustível, também influenciam nos valores das passagens”, informou a companhia.

Belitardo lembra ainda que cerca de 60% da estrutura de custos do setor é dolarizada, incluindo leasing e manutenção, e que pressões adicionais, como reajustes de tarifas aeroportuárias e despesas judiciais — projetadas em mais de R$ 1 bilhão em 2025 — limitam a queda das tarifas.

O cenário internacional abre espaço para novas reduções: o Brent recua para a faixa de US$ 66 a US$ 67 o barril e a Iata projeta preços médios de combustível de aviação mais baixos em 2025 do que em 2024.

No entanto, a trajetória dependerá também do câmbio. “Se o real se mantiver perto de R$ 5,45 por dólar, há espaço para mais cortes modestos no QAV; uma depreciação pode neutralizar o benefício do petróleo mais barato”, avalia Belitardo.

Para o consumidor, a tendência é de normalização gradual. Segundo a Anac, as tarifas médias caíram 5,1% em 2024 e janeiro de 2025 já mostrou recuo frente a meados do ano passado.

“Com QAV mais comportado, recuperação de oferta e maior competição, o alívio será marginal e heterogêneo ao longo de 2025, mais visível em compras com antecedência e rotas concorridas. Não há, porém, um retorno rápido aos patamares de 2019”, conclui o gestor.