Estratégia nos negócios

Reforma Tributária: o que os varejistas precisam saber agora

Entender o que está por vir não é apenas uma questão de compliance, mas de estratégia para a sobrevivência nos negócios

Foto: Freepik
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A palavra “reforma” costuma trazer um misto de ansiedade e esperança, especialmente quando falamos da mais significativa mudança no sistema tributário brasileiro em décadas. Para o varejo, um setor conhecido por suas margens ajustadas e uma das maiores cargas tributárias do País, a Reforma Tributária representa um desafio e um palco para novas oportunidades.

Neste cenário, minha missão é traduzir o complexo universo das novas regras fiscais em um guia prático para você, pequeno e médio lojista. Entender o que está por vir não é apenas uma questão de compliance, mas de estratégia para a sobrevivência e o crescimento do seu negócio.

O fim de uma era

A grande estrela da reforma é o IVA Dual, um modelo que promete simplificar a tributação sobre o consumo. Terei aqui dois novos “personagens” tributários: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de responsabilidades estadual e municipal. Eles substituirão uma sopa de letrinhas que hoje nos acompanha diariamente: ICMS, ISS, PIS e COFINS, além de boa parte do IPI.

Essa unificação, no longo prazo, tende a desburocratizar e trazer mais transparência. Imagine não ter que lidar com 27 legislações diferentes de ICMS! No entanto, no curto e médio prazos, o caminho será de adaptação intensa.

Outras mudanças cruciais incluem o Imposto Seletivo, que incidirá sobre produtos considerados nocivos à saúde ou ao meio ambiente (como cigarros e bebidas alcoólicas), alterando a dinâmica de precificação em segmentos específicos. Além disso, a adoção do princípio do destino muda a lógica da tributação: o imposto será recolhido no local de consumo, e não de origem. Isso impacta diretamente o e-commerce, nivelando o campo de jogo entre o comércio online e as lojas físicas.

O impacto direto no caixa e na precificação

A pergunta que não cala é: como isso afetará meus preços? A resposta é: depende do que você vende. Produtos essenciais, como os da cesta básica, terão sua carga tributária significativamente reduzida ou até zerada. Isso pode se traduzir em preços mais baixos para o consumidor, estimulando o volume de vendas para supermercados e varejo de alimentos. Por outro lado, bares e restaurantes também verão uma alíquota reduzida em 40%, um respiro importante para o setor.

Já itens que hoje se beneficiam de incentivos fiscais regionais, como eletrônicos, vestuário e outros bens de consumo, podem ver seus preços finais encarecerem. Com a projeção de uma alíquota unificada de IVA Dual em torno de 28%, alguns segmentos perderão as vantagens competitivas que a guerra fiscal proporcionava.

Pense na loja de eletrônicos do Sr. João, que hoje se beneficia de um regime especial em seu estado. Com o novo modelo, essa vantagem desaparece, exigindo uma reavaliação completa de sua estratégia de precificação e negociação com fornecedores. A margem, que já era apertada, demandará um olhar ainda mais cirúrgico.

A complexa transição

Talvez o maior desafio para os lojistas seja a fase de transição, que se estenderá de 2026 a 2033. Durante esse período, seremos convidados a uma convivência forçada entre o regime tributário antigo e o novo. Isso significa que seus sistemas de gestão, sua contabilidade e até seus contratos precisarão estar aptos a operar sob duas lógicas tributárias simultaneamente.

De repente, os lojistas precisarão emitir notas fiscais com ICMS, PIS/COFINS para algumas operações e, para outras, já com CBS e IBS. As apurações, os cálculos, os registros, tudo será dobrado por um tempo considerável. A adaptação não será opcional, será uma questão de sobrevivência.

A palavra de ordem é preparação. E, aqui, a tecnologia se posiciona como um aliada insubstituível. Seus ERPs, sistemas de frente de caixa e plataformas de gestão financeira precisarão ser atualizados ou substituídos para acomodar os cálculos, registros e emissões de notas fiscais com os novos tributos. Não subestime a necessidade de testar esses sistemas exaustivamente antes da entrada em vigor.

Mais do que nunca, um sistema de controle financeiro eficiente será a espinha dorsal de uma contabilidade bem-feita. Ele permitirá que você monitore o fluxo de caixa, aproveite os créditos tributários de forma integral e tome decisões ágeis em um ambiente de constante mudança.

Seu contador deixará de ser apenas um “tirador de guias” para se tornar um verdadeiro parceiro estratégico. Ele precisará estar atualizado sobre as minúcias da reforma e ser capaz de guiar sua empresa pelos meandros da transição, ajudando a identificar oportunidades e mitigar riscos. Sem essa preparação, muitos negócios correm o risco de aumento da carga tributária e perda de competitividade. Já quem investir em gestão, créditos e contabilidade estratégica terá condições de transformar a reforma em vantagem competitiva. Com o olhar correto e uma boa preparação, sua empresa pode manter a competitividade e a rentabilidade, ao invés de reagir tardiamente às mudanças.

Henrique Carbonell, CEO e co-fundador da F360

Lidera a visão e estratégia da empresa, focando no crescimento sustentável e na transformação da gestão financeira no Brasil. Formado em Administração pela FAAP, Henrique criou a F360 após identificar a falta de ferramentas integradas para previsibilidade de caixa, conciliação de cartões e visão multicanal, desenvolvendo uma solução que une eficiência operacional e suporte estratégico.