O Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês), do Fed (Federal Reserve), decidiu nesta quarta-feira (17) por cortar a taxa de juros em 0,25 p.p (pontos percentuais). A faixa entre 4% e 4,25% veio alinhada às expectativas do mercado, mas ainda é considerada “dovish” por alguns especialistas.
A decisão teve apenas um ponto de dissidência, justamente o de Stephen Miran, indicado por Donald Trump, empossado na terça-feira (16), que votou por três cortes de 0,5 p.p até o fim do ano.
“Na minha visão, o Fed está tomando essa decisão porque ele está olhando tanto para dados de inflação e dados de desemprego. E fica claro que tomaram essa decisão, pelos modelos macro que eles utilizam, principalmente, com o objetivo de proteger o nível de pleno emprego da economia americana. Inclusive, o desemprego lá está subindo. Então, para frear um pouco esse arrefecimento do mercado de trabalho por lá, é esperado um alívio de 25 bps na taxa de juros norte-americana à vista”, disse Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos.
Além do recuo nos juros, o Fed atualizou algumas projeções. A primeira delas é sobre o próprio número de cortes previstos pelo banco central dos EUA. O grupo decidiu fazer mais dois cortes de 0,25% ainda em 2025, encerrando o ano na faixa entre 3,75% e 4%, o que representa uma revisão em relação a junho, quando eram projetados apenas dois cortes até o fim de 2025.
O PIB (Produto Interno Bruto) foi revisado de 1,4% para 1,6% em 2025 e de 1,6% para 1,8% em 2026. Já o desemprego ficou em 4,5% este ano, mas foi revisado para baixo em 2026, de 4,5% para 4,4%. “Esse dado chama atenção porque, embora o mercado de trabalho esteja desacelerando na criação de vagas, a taxa de desemprego dificilmente deve disparar devido à redução no número de imigrantes nos EUA” declarou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Na inflação, o Fed manteve a projeção de 3% para este ano, mas revisou de 2,4% para 2,6% em 2026. “O corte veio em um contexto de indicadores mais pressionados, especialmente em relação à inflação. Isso torna o ambiente mais desconfortável, já que o discurso do Fed se ancora na ideia de que os efeitos das tarifas são temporários” analisou Cruz.
Sobre os dados e projeções, Thiago Calestine afirmou que “o cenário para o final do ano está variando muito entre dois a três cortes porque, apesar do desemprego estar subindo, a inflação está um pouco pegajosa, está um pouco teimosa. Ela não está caindo tanto e não está indo em direção à meta deles e como a autoridade monetária achou que iria”, o que estaria deixando o Fed mais reticente sobre uma política monetária mais expansionista.
Cruz e Calestine afirmam que os próximos cortes, apesar de previstos, irão depender do dos próximos dados dos EUA. No caso de Cruz, o profissional não descarta a necessidade de uma alta nos juros em 2026.
Dissenso sobre cortes
Diferente do que Miran queria, o comitê decidiu por três cortes contando com esse. “Eu esperava dois cortes”, afirmou Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine.
O executivo explicou que o dissenso poderia ser prejudicial para o dólar, que, logo após a divulgação do resultado, chegou a $ 5,2877 (-0,20%) no Brasil. “Diante disso, o dólar global (DXY) deve continuar perdendo valor. E é provável que em doze meses a discussão será sobre quando o FED irá aumentar a taxa de juros.” Esse recuo do dólar pode favorecer ativos de risco, como o próprio Real que valoriza 16,6% no ano.
A discordância de Miran também chamou a atenção para a influência de Trump nos resultados do banco central dos EUA e reacende o debate sobre a independência da instituição, aspectos que devem continuar tendo visibilidade nos próximos capítulos da história recente do Federal Reserve.
Impacto no bitcoin
Não foram apenas as moedas tradicionais as afetadas pela divulgação do resultado o Fed, o mercado de criptomoedas também acompanhou de perto a decisão do Fomc.
Para Guilherme Prado, country manager da Bitget no Brasil, a teoria de que o corte nos juros dos EUA favorece ativos de risco no médio e longo prazo contrastou com o recuo do Bitcoin logo após a divulgação. Logo após o anúncio, a moeda estava em torno dos US$ 116.000.
“O movimento sugere que a recente valorização da moeda já havia antecipado a decisão pelo mercado”, disse Prado.
As altcoins continuaram com relativa força, com ganhos em nomes como Ethereum, Solana, Avalanche, Dogecoin, Stellar, Toncoin e Litecoin.
“O índice “altseason”, que mede o aquecimento das altcoins, segue próximo de seu pico. Caso o Fed sinalize novos cortes ainda este ano, o mercado pode ganhar fôlego adicional; se adotar um tom mais cauteloso, há espaço para ajustes rápidos nos preços”, analisou Prado.