"Hawkish"

Selic à espera de ancoragem na inflação; entenda decisão e como impacta os investimentos

Especialistas consideram que tom do Copom foi mais "hawkish" e avaliam os melhores investimentos para o cenário.

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(Foto: Shutterstock/reprodução/Money Times)

Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu nesta quarta-feira (17) manter a taxa Selic em 15% a.a. (ao ano), decisão que comprova a posição cautelosa à espera da ancoragem da inflação à meta.

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 seguem em valores acima da meta, em 4,8% e 4,3%, respectivamente. Já a projeção para o primeiro trimestre de 2027 está em 3,4%.

Na prática, o consenso segue de que reduções da Selic só devem ocorrer em 2026, de forma gradual. A decisão dá previsibilidade, mas também mantém pressão sobre crédito e crescimento econômico”, disse Pablo Spyer, conselheiro da ANCORD.

Postura mais “hawkish”

Diferente do comunicado anterior, o Copom afirmou que vai retomar o ciclo de alta se julgar necessário, posicionamento que surpreendeu alguns especialistas e, na visão de Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, deu um tom “claramente mais hawkish” à decisão, contrastando com o tom “dovish” da decisão do Fed, nos EUA.

“Isso não tinha sido feito no último comunicado. Na minha visão, o comunicado vem com uma postura bem mais firme contra a inflação e reforça que não há espaço para cortes”, afirmou Lago.

Ainda sobre surpresas no comunicado, o comitê citou as tarifas dos EUA contra do Brasil no comunicado. “Isso não tinha sido feito no comunicado, foi algo novo, isso mostra que ele está preocupado não apenas com a inflação interna, mas o que esse choque externo pode vir a pressionar o câmbio”, analisou Lago.

De acordo com especialistas, a decisão do Copom indica, para as empresas, que o ambiente de crédito continuará mais restrito. Já o crescimento econômico, medido pelo PIB, dá sinais de ritmo modelado.

Para Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, “esse discurso reduz o espaço para cortes no curto prazo e tende a penalizar ações mais sensíveis à queda de juros, como varejo, consumo discricionário e construção civil, que vinham se beneficiando da expectativa de flexibilização monetária mais cedo”.

Já na perspectiva de Bruno Corano, economista e CEO da Corano Capital, a tendência é de que o cenário para 2026 seja desafiador “qualquer choque no mercado internacional, somado à fragilidade fiscal do país, pode obrigar o Banco Central a reverter rapidamente qualquer movimento de queda de juros.”

Investimentos focados em estabilidade

Diante dessa decisão, alguns economistas e especialistas do mercado financeiro apontam que, para os investidores, o momento é de aproveitar a previsão de estabilidade.

Fabricio Voigt, economista da gestora de patrimônio Aware Investments, analisa que os os títulos públicos indexados à taxa Selic e os títulos pós-fixados curtos permanecem mais atrativos, um dos exemplos é o Tesouro Prefixado de 2028, que já opera em 13,16% a.a. desde a última atualização.

“Já os títulos atrelados à inflação constituem alternativas de diversificação, atuando como ferramenta de proteção à inflação, mas tendem a ser mais sensíveis trazendo mais volatilidade ao portfólio e, assim, devem ser usados como opções de investimentos de longo prazo”, afirmou Voigt.

Ele considera que, para investimentos em Bolsa ou Crédito privado, a análise é similar. “A busca por setores de exportadores e empresa de commodities tendem a se beneficiar principalmente com o câmbio ainda elevado. Já setores de varejo e consumo seguem com baixa recomendação para alocações”.

No que tange o crédito privado (debêntures, CRAs, CRIs), o economista indica empresas de commodities alimentícios. As FIDCS também foram bastante citadas por especialistas em mercado financeiro, por oferecerem liquidez e flexibilidade para as companhias e, ao mesmo tempo, entregarem retornos consistentes.

Dinheiro fora do país

Diversificar fora do Brasil também é uma possibilidade, e, para alguns economistas, a melhor escolha.

“Para o investidor, a mensagem é direta: A necessidade de diversificar internacionalmente, buscar consistência na geração de renda com estratégias como Covered Call com ETFs e não depender da previsibilidade do juro real brasileiro, se mostra cada vez mais necessária”, disse Fábio Murad, Economista e CEO da Super-ETF Educação.

No caso de investimentos internacionais, os setores de tecnologia e consumo discricionário (bens duráveis, turismo, entretenimento) também foram citados como boas opções, pois tendem a se beneficiar dos cortes de juros nos EUA.