Em meio à juros elevados

Imóvel em garantia, dívida atrasada: quais são as opções?

Com inadimplência em alta, especialista da Rooftop aponta alternativas para proteger o imóvel e reorganizar as finanças em momentos desafiadores

Foto: Freepik
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Quatro em cada dez brasileiros estavam negativados durante o primeiro semestre de 2025, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Equivalente a mais de 70 milhões de consumidores do país, o dado ilustra bem como a inadimplência deixou de ser uma exceção e tornou-se um desafio estrutural no país.

A combinação de juros elevados, instabilidade econômica e dificuldades no planejamento financeiro explica por que muitos consumidores recorrem às modalidades de crédito a fim de reajustar sua situação financeira.

Uma das alternativas mais populares nesse contexto é o crédito com imóvel como garantia, também conhecido como home equity. Popular por permitir valores altos e prazos mais longos, o modelo pode carregar problemas nem sempre perceptíveis à primeira vista, como taxas de juros variáveis e encargos embutidos.

“O crédito com imóvel em garantia até pode trazer alívio imediato, mas muitas vezes esconde armadilhas. A promessa de parcelas menores e prazos mais longos precisa ser analisada com cautela, pois muitas pessoas não têm planejamento adequado, não consideram adequadamente os custos e a multiplicação do saldo devedor. Com isso, a solução pode se transformar em um novo problema financeiro, com consequências ainda mais graves”, aponta Daniel Gava, CEO e fundador da Rooftop, startup pioneira em oferecer soluções imobiliárias para quem precisa de liquidez de capital.

Quando o pagamento se torna inviável, o medo de perder o bem cresce e vira uma nova preocupação para o tomador. Contudo, o especialista alerta que o mercado oferece soluções para reorganizar a vida financeira antes de abrir mão da casa. Confira as dicas:

1. Negociação direta com a instituição
Segundo Gava, a primeira iniciativa deve ser buscar diálogo com o banco ou a instituição financeira responsável pelo contrato. Em alguns casos, eles oferecem programas de renegociação que podem incluir prazos maiores, parcelas reduzidas temporariamente ou períodos de carência. O credor pode ainda oferecer alternativas personalizadas, já que para ele também não é interessante executar a garantia imediatamente. “Esse contato mostra boa-fé e aumenta as chances de encontrar uma solução que evite a inadimplência prolongada”, pontua o executivo.

2. Refinanciamento
Outra alternativa é o refinanciamento da dívida, que consiste em substituir o contrato atual por um novo, geralmente com prazo maior ou taxas diferentes. Tal opção pode ser útil quando a renegociação direta não traz resultados suficientes. No entanto, é fundamental fazer as contas. “É fundamental avaliar com detalhes se a troca realmente reduz o impacto no orçamento, já que estender o prazo pode aumentar o custo total do crédito. O refinanciamento pode oferecer alívio imediato, mas deve ser encarado como parte de um plano de reorganização mais amplo”, ressalta Gava.

3. Portabilidade de dívidas
A portabilidade é um recurso regulamentado desde 2006 e que ganhou força nos últimos anos. Com ela, o consumidor transfere sua dívida para outra instituição que ofereça melhores condições. Entre os benefícios estão a redução de encargos financeiros, o alongamento do prazo de pagamento e a possibilidade de concentrar várias dívidas em um único contrato, facilitando a gestão do orçamento. No entanto, o executivo alerta para a importância de comparar custos, prazos e eventuais taxas adicionais. “Hoje, por exemplo, o mercado já oferece soluções, mesmo atreladas à garantia imobiliária, menos burocráticas, com taxas mais equilibradas e que não comprometam integralmente o imóvel em caso de inadimplência”, afirma o fundador da Rooftop.

4. Orientação profissional
Contar com apoio especializado é um passo muitas vezes subestimado. Advogados especializados em direito do consumidor ou em contratos de crédito podem ajudar a identificar cláusulas abusivas ou orientar sobre direitos pouco divulgados. Já consultores financeiros ajudam a estruturar um plano realista de reorganização do orçamento, considerando renda, despesas e dívidas existentes. Em casos mais complexos, a atuação profissional pode até evitar medidas judiciais e proteger o imóvel de execuções precipitadas. “Buscar orientação não precisa ser visto como último recurso, mas como parte de um processo preventivo para lidar com dívidas de forma responsável”, completa o executivo.

5. Downgrade ou downsize
Diante do custo elevado do crédito e dos riscos de perder o bem em caso de inadimplência, é válido refletir sobre alternativas menos agressivas. Reduzir o padrão de vida (downgrade) ou até mesmo trocar o imóvel por outro de menor valor (downsize) são caminhos mais conservadores e alternativos para liberar recursos sem assumir dívidas caras. A decisão pode ser difícil, mas representa uma forma de proteger o patrimônio no longo prazo. “Muitas vezes, é melhor se adaptar e sobreviver financeiramente do que comprometer tudo e correr o risco de perder o imóvel”, conclui Gava.