Fiscalização

Trabalho escravo: ministro interfere em caso da JBS

Decisão inédita levanta preocupações sobre possível interferência política no combate à escravidão moderna

Foto: JBS | Divulgação
Foto: JBS | Divulgação

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, decidiu revisar pessoalmente uma investigação que poderia incluir uma unidade da JBS Aves, no Rio Grande do Sul, na “lista suja” do trabalho escravo.

A medida é considerada inédita em mais de duas décadas e levantou preocupações entre fiscais e juristas sobre risco de influência política em um mecanismo que é símbolo do combate à escravidão contemporânea no Brasil.

A investigação teve origem em uma operação federal no ano passado, que flagrou dez trabalhadores submetidos a condições degradantes por uma terceirizada responsável pelo carregamento de cargas.

Segundo relatório obtido pela Reuters, eles cumpriam turnos de até 16 horas, viviam em alojamentos sem água potável e sofriam descontos ilegais nos salários.

Embora a JBS tenha rescindido o contrato com a empresa envolvida, os fiscais concluíram, em agosto, que a companhia era responsável pelas condições, por não ter fiscalizado a contratada.

A decisão abriria caminho para a inclusão da unidade na lista suja, cuja atualização está prevista para outubro.

A AGU (Advocacia-Geral da União) defendeu que o ministro poderia assumir o processo, citando a relevância da JBS para a economia brasileira.

A companhia, que emprega 158 mil pessoas no país, afirmou em nota que tem “tolerância zero” com violações trabalhistas.

Para auditores e especialistas, a intervenção abre precedente para que outras empresas solicitem tratamento semelhante.

“Causa profunda estranheza e preocupação”, disse Renato Barbedo Futuro, presidente da Associação Gaúcha dos Auditores Fiscais do Trabalho (Agitra).

A AGU não comentou. O Ministério do Trabalho afirmou apenas que o processo segue em análise.