Durante a semana de 15 a 21 de setembro a economia e o mercado financeiro funcionaram em função da divulgação das novas taxas de juros e projeções divulgadas pelo Copom (Comitê de Política Monetária), no Brasil, e pelo Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês), nos EUA.
Para a semana que vem, de 22 e 26 de setembro, o foco segue nas políticas monetárias, já que serão divulgadas a prévia da inflação de setembro, o IPCA-15, e a leitura final do PIB do segundo trimestre dos EUA.
Semana que passou: Super Quarta previsível
Poucas coisas, talvez nenhuma, conseguiram chamar verdadeiramente a atenção da semana que foi fortemente marcada pela expectativa e “ressaca” da Super Quarta, no dia 17 de setembro.
Entre essas, o Mercosul e o EFTA, bloco de países europeus, assinaram na terça-feira (16) um Acordo de Livre Comércio. Geraldo Alckmin afirmou que o considera o acordo “estratégico e decisivo”.
Nos EUA, Stephen Miran, assessor de Donald Trump, foi nomeado um dos governadores do Fed, logo antes do início da reunião do Fomc. Entrada de Miran reacendeu o debate sobre a influência do presidente na instituição e a independência do banco central.
O Ibovespa, influenciado pela expectativa de corte nos juros dos EUA, teve duas quebras de recorde de pontos. Na segunda-feira (15), o índice fechou com alta de 0,90%, aos 143.546,58 pontos, e na própria quarta-feira, a sessão encerrou com alta de 1,06%, aos 145.593,63 pontos.
Indo para o principal tópico da semana, na tarde da quarta o Fed (Federal Reserve) cumpriu com a expectativa do mercado e cortou os juros em 0,25 p.p. (ponto percentual), levando a taxa para a faixa de 4,00% a 4,25%. O único a votar num corte de 0,50 p.p. foi, justamente Miran.
Esse foi o primeiro movimento de flexibilização em nove meses e sinalizou que a autoridade monetária enxerga espaço para aliviar as condições financeiras sem perder o controle da inflação, que está projetada em queda gradual até 2028.
“A decisão reduziu a atratividade dos títulos do Tesouro americano e favoreceu ativos de risco, o que fortaleceu bolsas globais e trouxe maior fluxo para mercados emergentes. Esse movimento de liquidez internacional também repercutiu diretamente sobre o dólar, que perdeu força frente a moedas de países com juros elevados”, analisou André Matos, CEO da MA7 Negócios.
No Brasil, o Copom manteve a Selic em 15%, reforçando o tom de cautela diante da fragilidade fiscal e da volatilidade cambial. A decisão foi considerada um “balde de água fria” por alguns, mas também já era esperada. O comunicado, contudo deixou claro que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, o que deu um tom “hawkish” para a medida.
“A combinação de juros altos internamente e corte moderado nos EUA criou um diferencial ainda mais favorável ao real, que se valorizou e levou o dólar a R$ 5,27. Esse ambiente atraiu fluxo estrangeiro para a bolsa, impulsionando o Ibovespa a uma nova máxima histórica acima de 145 mil pontos”, analisou Matos.
“Apesar do otimismo momentâneo, o recado foi claro: o crédito segue caro e seletivo, pressionando empresas endividadas, mas também abrindo espaço para alternativas financeiras e preparação para o próximo ciclo de crescimento”, concluiu.
Para Leandro Manzoni, analista de economia do Investing.com, “apesar de a expectativa de inflação no horizonte relevante (2027) estar em queda — mas em ritmo lento —, do dólar em baixa e do risco de uma desaceleração da atividade maior do que o esperado, o comunicado reforça o prognóstico de mercado de trabalho aquecido e o risco de alta de inflação com a desancoragem das expectativas”
Na quinta-feira (18) o Ibovespa caiu pela primeira, e única, vez na semana, ainda digerindo as informações do dia anterior.
As PECs da Anistia e da Blindagem, que foi aprovada na noite de quarta, estão entre os principais destaques do noticiário. O presidente Lula Lula anunciou que vetará qualquer projeto de anistia a Bolsonaro, condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. O petista também criticou a aprovação na Câmara de PEC que limita processos contra parlamentares.
Nos EUA, o presidente Donald Trump, levou à Suprema Corte seu esforço para remover a governadora do Fed (Federal Reserve), Lisa Cook. Se Trump conseguir o que deseja, seria a primeira vez que um governador do Fed seria destituído por um presidente nos 111 anos de história do banco central americano.
Na sexta-feira (19), apesar do dia morno, o Ibovespa voltou a subir e o dia terminou com o principal índice acionário brasileiro avançando 2,5% no acumulado semanal.
Semana que chega: mais política monetária
Ainda durante o fim de semana, no domingo (21) está previsto que grupos protestem em pontos chamativos nas capitais do Brasil contra a PEC da Blindagem.
Começando a semana oficialmente, a expectativa é para mais desenvolvimentos de política monetária.
Nos EUA, a semana tem diversos discursos de autoridades do Fed, incluindo Jerome Powell e o recém-empossado diretor Stephan Miran. Os investidores vão monitorar a confirmação de mais dois cortes de juros de 25 pontos-base ainda este ano e a avaliação de risco de cada membro da autoridade monetária americana, especialmente de Miran.
Também há a expectativa de que o aliado de Trump seja indicado para a presidencia do Fed após a saída de Powell em maio de 2026, o que impacta nos contratos futuros de médio e longo prazo.
Na quinta-feira (25) está prevista a leitura final do PIB do segundo trimestre dos EUA,
que deve confirmar a reversão da retração do primeiro trimestre.
“É importante mencionar que a retração do primeiro trimestre ocorreu devido à alta das importações, antecipadas antes da implementação das tarifas de Trump. Já a queda no volume de importações é a principal responsável pela forte alta do PIB entre abril e junho, o que esconde a desaceleração do consumo — principal motor da economia americana”, explicou Leandro Manzoni.
Na sexta-feira, será divulgado índice de preços PCE de agosto, “o indicador de
inflação preferido do Fed”, disse Manzoni. O mercado vai monitorar o impacto das tarifas de importação sobre o nível de preços do mês passado.
Já no Brasil, o mercado terá duas oportunidades de observar se o BC (Banco Central) irá manter a mesma visão que regeu o Copom de setembro. A primeira será na terça-feira (23), com a ata da última reunião. A segunda será na quinta-feira (25), o Relatório de Política Monetária e a entrevista coletiva de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, e Diogo Guillen, diretor de Política Econômica.
“Antes, na segunda-feira (22), será divulgado o tradicional Boletim Focus, com o mercado observando o ritmo de redução da projeção do IPCA para 2027 em direção ao centro da meta de 3%. Na quinta-feira, o IBGE divulga a prévia da inflação de setembro — o IPCA-15.”, destacou Manzoni
“Na sexta-feira, o Banco Central apresenta os dados do setor externo de agosto. O mercado monitora se o déficit em transações correntes continua sendo financiado pelo fluxo de Investimento Direto Produtivo”, concluiu o economista.