O Copom (Comitê de Política Monetária) avaliou que o ambiente externo segue marcado por incertezas, sobretudo em função da política econômica dos EUA e da tensão geopolítica.
O debate sobre o início do ciclo de cortes de juros pelo Fed (Federal Reserve) e os impactos das tarifas americanas sobre a inflação foram destacados como elementos de risco.
Atividade doméstica em moderação
No cenário interno, a economia brasileira mostra sinais de desaceleração gradual, em linha com o que vinha sendo projetado pelo BC (Banco Central).
Pesquisas setoriais e dados recentes de consumo confirmam a tendência de moderação, embora o mercado de trabalho siga aquecido.
Segundo a ata, setores mais sensíveis ao crédito, como bens duráveis e financiamentos de longo prazo, vêm registrando arrefecimento mais nítido, enquanto o consumo ligado à renda mantém maior resiliência.
O Copom avalia que a redução da demanda agregada é condição essencial para o reequilíbrio entre oferta e demanda e, consequentemente, para a convergência da inflação à meta.
As leituras recentes mostram uma dinâmica mais favorável em alguns itens, como alimentos e bens industrializados, influenciados pela valorização do câmbio e pela queda das commodities.
No entanto, a inflação de serviços segue resiliente, refletindo o mercado de trabalho dinâmico.
As projeções indicam IPCA de 4,8% em 2025, 3,6% em 2026 e 3,4% no primeiro trimestre de 2027, todas acima da meta oficial.
Além disso, as expectativas de inflação continuam desancoradas em todos os horizontes, o que, na avaliação do Comitê, aumenta o custo da desinflação e exige a manutenção de uma política monetária “significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Fiscal e risco de desinflação mais cara
A política fiscal foi novamente citada como elemento central no processo de convergência da inflação. Segundo a ata, a ausência de reformas estruturais, a expansão de crédito direcionado e a falta de clareza quanto à trajetória da dívida pública elevam a taxa de juros neutra da economia, reduzindo a potência da política monetária.
O Comitê reforçou que políticas fiscais previsíveis, críveis e anticíclicas contribuem para reduzir o prêmio de risco, facilitar a queda da inflação e mitigar custos sobre a atividade econômica.
Diante desse conjunto de fatores, o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 15% ao ano. O colegiado avaliou que o nível atual de juros é compatível com a convergência da inflação, mas ressaltou que poderá voltar a elevar a taxa caso o cenário se deteriore.
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, destacou o Comitê.
O BC afirmou ainda que seguirá vigilante, monitorando a atividade doméstica, o repasse do câmbio e o comportamento das expectativas de inflação, enfatizando que os próximos passos da política monetária dependerão da evolução dos dados e do balanço de riscos.