Autonomia como valor

Por que as pessoas estão se tornando cada vez mais gestoras de si mesmas?

Ser gestor de si próprio significa analisar, executar e integrar todas as etapas da atividade principal

Foto: Unsplash
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O modo como atuamos está passando por uma transformação profunda. Se, antes, carreiras e finanças eram, em grande parte, geridas pelas empresas, hoje cresce rapidamente o número de profissionais que assumem para si o papel de “gestor de si mesmo”. E essa mudança não é exclusiva do meio corporativo tradicional: no trabalho mediado por aplicativos, ela se mostra ainda mais intensa, especialmente entre motoristas e entregadores.

Ser gestor de si próprio significa analisar, executar e integrar todas as etapas da atividade principal: definir horários, calcular custos, projetar lucratividade, cuidar da segurança e buscar formas de inovar na produtividade. É um modelo que oferece mais independência do que nunca, mas que também transfere totalmente ao profissional a responsabilidade por manter a viabilidade do negócio.

Os dados sobre motoristas de aplicativo ilustram bem essa realidade. Em São Paulo, por exemplo, o faturamento médio gira em torno de R$ 8,6 mil por mês, com gastos próximos de R$ 4,4 mil — sendo mais de R$ 2,1 mil apenas com combustível —, resultando em um lucro médio mensal de R$ 4,1 mil. Essa conta precisa ser feita todos os dias pelo próprio motorista para que o negócio “individual” realmente compense.

E a situação se repete em outras regiões. Em Belo Horizonte, o lucro mensal é de R$ 3,4 mil; em Belém, R$ 2,9 mil; e em Maceió, R$ 1,8 mil. Embora os números variem, a lógica é a mesma: o profissional é, simultaneamente, proprietário, gestor financeiro, responsável por marketing (ao manter boas avaliações) e encarregado da manutenção de seu principal ativo — o carro.

O que motiva as pessoas a se tornarem gestores de si mesmas?

 O primeiro motivo é a autonomia como valor: cada vez mais, profissionais querem decidir onde, quando e com que frequência trabalham, mesmo que isso implique assumir riscos maiores. 

O segundo é a tecnologia como alavanca, já que aplicativos, plataformas de gestão e ferramentas de análise oferecem a trabalhadores autônomos acesso a dados e previsões que antes estavam restritos a grandes empresas. 

Por fim, há a mudança cultural, em que a estabilidade deixou de depender de um único empregador e passou a estar ligada à capacidade de manter a própria operação sustentável ao longo do tempo.

No entanto, a autonomia vem acompanhada de desafios: a ausência de benefícios tradicionais, a necessidade de investimento e planejamento, as oscilações na demanda e o aumento dos custos operacionais.

Em minha visão, o futuro do trabalho será cada vez mais descentralizado e menos hierárquico. Quanto mais cedo entendermos que cada profissional é, na prática, uma empresa de uma só pessoa, mais preparados estaremos para transformar essa realidade em oportunidade.

*Luiz Gustavo Neves é cofundador e CEO do GigU, anteriormente StopClub, um copiloto inteligente que aumenta a performance financeira e a segurança de motoristas e entregadores de aplicativo.