Unificação de impostos

Senado aprova projeto que regulamenta a reforma tributária

Entenda os principais pontos da proposta aprovada pelo Senado que, entre diversas outras mudanças, cria o Comitê Gestor do IBS

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Depois de 11 meses desde que foi aprovado na Câmara, o Senado aprovou nesta terça-feira (30), no plenário, o segundo projeto de regulamentação da reforma tributária, de autoria do governo federal.

O texto estabelece as regras de funcionamento do Comitê Gestor do Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), tributo que substituirá os atuais ICMS e ISS no novo sistema.

O projeto, o PLP 108/2024, teve apoio da maioria dos partidos, e foi aprovado por 51 votos a favor, 10 contrários e 1 abstenção.

A proposta do governo agora retorna à Câmara dos Deputados. Se for aprovada pelos deputados, seguirá para sanção presidencial.

De acordo com o texto, a transição começa em 2026, com período de convivência entre o modelo atual e o novo. O IBS e a CBS só substituirão totalmente os tributos atuais em 2033.

Até que se cumpra esse prazo de transição, estados e municípios terão fundos de compensação para não perder arrecadação.

Pela proposta aprovada no Senado, o Comitê Gestor do IBS será formado por representantes dos diferentes níveis da federação.

Esse Comitê ficará encarregado por coordenar a arrecadação e a distribuição do valor arrecadado de forma integrada entre todos os Estados e municípios.

Senado introduziu mudanças no texto original

O parecer do senador Eduardo Braga (MDB-AM) prevê que o Comitê Gestor do IBS deverá possuir autonomia administrativa, financeira e orçamentária, com sede no Distrito Federal, e atuar sem subordinação a outros órgãos da administração.

Suas competências envolvem editar regulamentos, uniformizar a interpretação da legislação, arrecadar o imposto, efetuar compensações e distribuir os valores arrecadados aos entes federativos.

Também caberá ao Comitê Gestor decidir em conflitos administrativos, harmonizar normas em cooperação com o Executivo federal, compartilhar informações fiscais com a Receita Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e, em determinados casos, inscrever créditos tributários em dívida ativa.

Decisões sobre metodologias de cálculo de alíquotas, planos de trabalho, sanções disciplinares e prestação de contas serão deliberadas pelo Conselho Superior.

Esse Conselho será formado por 26 representantes dos Estados, um do Distrito Federal e outros 27 eleitos pelas associações de municípios, com participação do DF no pleito. Cada membro terá um mandato de dois anos.

A presidência deverá alternar entre membros dos Estados, DF e municípios. O primeiro vice-presidente deverá, necessariamente, ser de uma esfera federativa distinta à do presidente.

O texto também trouxe inovações a respeito do funcionamento das alíquotas, como o escalonamento na cobrança do Imposto Seletivo (IS) para bebidas açucaradas, aumentando gradualmente entre 2029 e 2033.

O Imposto Seletivo foi criado para incidir em itens danosos à saúde e segurança públicas.

O relatório ainda prevê o teto de isenção para a aquisição de veículos para pessoas com deficiências, que sobe de R$ 70 mil para R$ 100 mil.

A proposição também prevê a isenção do IBS para a atividade taxistas, mototaxistas e caminhoneiros autônomos com faturamento anual de até R$ 162 mil.

Mudanças que serão agora analisadas na Câmara

Confira abaixo os 12 pontos principais aprovados no Senado:

  1. Criação do Comitê Gestor do IBS

Foi confirmada a criação do Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (CG-IBS), órgão que vai administrar, arrecadar e distribuir o IBS, o novo imposto que substitui ICMS (estadual) e ISS (municipal).

Por que importa: garante que estados e municípios terão uma instância única e colegiada para gerir o imposto, evitando disputas.

  1. Eleições do CG-IBS

Foram ajustadas as regras para eleger os representantes dos municípios no Conselho Superior do CG-IBS. A ideia é evitar monopólio de grandes associações de prefeitos e garantir processo competitivo.

Por que importa: dá mais legitimidade à escolha de quem vai representar os prefeitos no comitê.

  1. Split Payment

O sistema de pagamento dividido determina que, ao pagar uma compra, parte do valor vai direto para o vendedor e parte vai automaticamente para o governo, sem depender da empresa repassar depois.

Por que importa: reduz espaço para sonegação e inadimplência.

  1. Integração do Contencioso Administrativo

Foi criada a Câmara Nacional de Integração do Contencioso Administrativo, para uniformizar decisões envolvendo os novos tributos (IBS e CBS).

Por que importa: diminui insegurança jurídica, já que hoje cada tribunal ou estado decide de forma diferente.

  1. Fim do voto de qualidade

Nas disputas fiscais, o presidente só vota em caso de empate. Antes, o voto de qualidade favorecia automaticamente o fisco.

Por que importa: dá mais equilíbrio para empresas que contestam cobranças.

  1. ITCMD sobre previdência privada

Foi incluído de forma expressa que o imposto sobre heranças e doações (ITCMD) não incidirá sobre benefícios de previdência privada herdados, alinhando-se a decisões do STF.

Por que importa: traz segurança jurídica para famílias que recebem esse tipo de benefício.

  1. Base de cálculo de quotas/ações

Simplificação do cálculo do ITCMD na transmissão de quotas ou ações que não estão em bolsa. Agora será usado o valor patrimonial, e não métodos complexos de avaliação.

Por que importa: facilita a vida de herdeiros e reduz litígios.

  1. ITBI e antecipação opcional

Definidas regras gerais para o ITBI (imposto sobre transmissão de imóveis).

Municípios podem oferecer desconto se o contribuinte pagar antes, na assinatura da escritura.

Por que importa: dá flexibilidade e pode reduzir disputas sobre valores de imóveis.

  1. Extensão do regime de nanoempreendedor

Profissionais como taxistas, mototaxistas e caminhoneiros autônomos passam a ser enquadrados no regime simplificado, com isenção para faturamento anual até R$ 162 mil.

Por que importa: amplia o alcance do benefício para trabalhadores autônomos.

  1. Imposto Seletivo para bebidas açucaradas

Essas bebidas entram na lista do Imposto Seletivo, que já inclui álcool e cigarros. A cobrança será escalonada entre 2029 e 2033, com alíquota máxima de 2%.

Por que importa: busca equiparar tratamento a produtos que afetam a saúde, mas o teto baixo gerou críticas.

  1. Alíquota zero para veículos de PCD

O teto de valor dos veículos comprados com isenção de IBS e CBS por pessoas com deficiência subiu de R$ 70 mil para R$ 100 mil.

Por que importa: amplia acesso à isenção diante da inflação dos preços de automóveis.

  1. Tributação da nafta

A cobrança de ICMS sobre a nafta (insumo usado na produção de gasolina) foi antecipada para a importação. Por que importa: fecha brechas para fraudes, aumenta arrecadação imediata dos estados e antecipa receita que só viria a partir de 2033.