A paralisação do governo dos EUA, decorrente da falta de consenso entre o presidente Donald Trump e os democratas, já está no segundo dia. O anúncio, que não chocou o mercado, trouxe preocupações sobre se as movimentações no exterior iriam formar preço no mercado brasileiro.
Na perspectiva de especialistas ouvidos pelo BP Money, o mercado já tinha uma boa noção das consequências do chamado “shutdown” nos EUA. “Já aconteceram alguns ao longo da história, ao longo das últimas décadas. E isso não tem um impacto direto tão forte na Bolsa no primeiro momento”, comentou Danilo Coelho, economista e MBA em Finanças pela FBNF.
No pregão desta quinta-feira (2), as negociações iniciaram com o dólar registrando leve alta, enquanto o Ibovespa, principal índice acionário na B3 (B3SA3), apresentava queda. A contração ocorre em meio a movimentações em Brasília, com a Câmara dos Deputados aprovando o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda, mas também reflete o comportamento de investidores: o aumento da aversão ao risco global diante do shutdown nos EUA e da pressão sobre os bancos.
“Esses fatores externos podem continuar influenciando o mercado brasileiro nos próximos dias, já que qualquer sinal de incerteza fiscal ou monetária americana repercute de forma imediata em países emergentes”, explicou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
“No curto prazo, a paralisação nos EUA tende a aumentar a volatilidade e pressionar a precificação do Ibovespa, principalmente em setores mais sensíveis à alta de juros e ao fluxo estrangeiro, como bancos, varejo e construção civil”, acrescentou Lima.
Na véspera, os juros futuros apresentaram alta, se deslocando da dinâmica positiva que havia no exterior. Nesta manhã, porém, os juros futuros oscilavam, operando ao redor dos ajustes da véspera. Aparentemente, de acordo com analistas, não há gatilhos domésticos para os negócios.
Efeitos no longo prazo
Numa visão de longo prazo, ainda segundo Lima, se o shutdown comprometer a divulgação de dados econômicos relevantes, o mercado pode reavaliar projeções de crescimento global. Esse “repensar” também se reflete nos múltiplos das empresas listadas no Brasil.
“Para setores já pressionados pelo tarifaço, como indústria e consumo, o impacto tende a ser negativo, já que custos de insumos importados aumentam, margens ficam mais apertadas e a capacidade de repassar preços ao consumidor é limitada”, concluiu Lima.
No que diz respeito ao câmbio, o shutdown também pode acabar enfraquecendo o dólar no longo prazo. O movimento pode ser evidente principalmente frente a moedas fortes. Além disso, pode resultar em um aumento esperado no índice DXY, que mede o dólar em relação a outras moedas fortes.
Contudo, o economista Danilo Coelho apontou que esse movimento não vai necessariamente beneficiar o Brasil. “Como o Brasil está dependendo muito da diferença de juros que ocorre aqui em relação aos Estados Unidos, se a gente tem uma expectativa de que pare o ciclo de cortes lá, também fecha o espaço que nós tínhamos aqui para um ciclo de cortes mais brando que possa ocorrer no Brasil.”
Como o Shutdown Aconteceu?
A paralisação do governo dos EUA ocorre quando o Congresso não aprova o orçamento federal necessário para financiar o pleno funcionamento do governo. Sem recursos, parte dos serviços públicos é suspensa, funcionários considerados não essenciais são colocados em licença e outros podem ter que trabalhar sem receber.
O Congresso norte-americano tinha até as 23h59 (horário de Washington) de 30 de setembro para aprovar o orçamento e evitar o shutdown.
No Senado, são necessários 60 votos para aprovar o orçamento federal. Com 53 cadeiras, o partido do presidente Donald Trump não tem votos suficientes para aprovar sozinho a proposta.
O que motivou a crise atual foi a exigência dos democratas de manter recursos para saúde previstos em um programa conhecido como Obamacare. O programa auxilia na redução dos custos dos planos de saúde para milhões de norte-americanos.
Esses subsídios estão prestes a chegar ao fim e, caso não sejam renovados, milhares de pessoas enfrentarão planos de saúde mais caros. As famílias de baixa renda serão as mais afetadas.