Resumo da semana

Outubro inicia entre avanços em Brasília e travas em Washington

Congresso Nacional / Edifício do Capitólio dos EUA, Washington, DC O local de reunião do Congresso, Washington, DC (Foto: montagem)
Congresso Nacional / Edifício do Capitólio dos EUA, Washington, DC O local de reunião do Congresso, Washington, DC (Foto: montagem)

A primeira semana de outubro começou com o pé no acelerador — e um olho no Congresso. Em Brasília, a aprovação do projeto que amplia a faixa de isenção do IR (Imposto de Renda) dominou as atenções. A medida, que integra a chamada Reforma da Renda, surge em um contexto onde as eleições de 2026 já se fazem sentir nos bastidores. Com o calendário eleitoral já no retrovisor, o Congresso tem priorizado agendas de impacto direto no bolso do eleitor — ainda que a conta fiscal venha depois.

Um dos pontos-chave para a aprovação da medida foi a manutenção das compensações fiscais. Esta foi uma estratégia adotada pelo governo para garantir apoio no Congresso. Retirá-las significaria abrir mão do argumento de responsabilidade fiscal, dando munição aos críticos e dificultando o avanço da proposta em um cenário politicamente sensível.

Lá fora, os EUA enfrentam um momento delicado com a paralisação do governo federal. O shutdown, classificado como um dos mais impactantes dos últimos anos, adicionou volatilidade ao mercado global e ampliou o clima de cautela entre investidores, que já vinham operando sob a sombra da incerteza sobre os rumos dos juros e da economia americana.

Ao BP Money, especialistas explicam que os efeitos do shutdown nos EUA ainda não se refletem de forma significativa no Ibovespa. Apesar da paralisação do governo norte-americano ter chegado ao segundo dia, o mercado já antecipava esse cenário, o que ajudou a conter reações mais bruscas. Para o economista Danilo Coelho, episódios semelhantes no passado mostraram que, num primeiro momento, o impacto direto sobre a Bolsa brasileira tende a ser limitado.

Dólar

Mesmo começando a semana em queda, o dólar reverteu o movimento e apresentou alta nos últimos pregões. O mercado segue atento ao cenário externo, especialmente ao “shutdown” do governo dos EUA e à incerteza sobre a divulgação dos dados de emprego previstos desta sexta-feira (3). No Brasil, a política econômica também influencia a moeda.

Apesar da oscilação recente, o papel do dólar como principal reserva global está sendo repensado. Nos últimos anos, bancos centrais têm reduzido sua participação em dólar, diversificando suas reservas com investimentos em ouro e outras alternativas, sinalizando uma possível mudança na hegemonia da moeda americana no sistema financeiro mundial.

Semana pesada para grandes nomes da Bolsa

Na bolsa, as ações da Petrobras (PETR4) têm pressionado o principal índice acionário ao acumularem queda nas últimas sessões. A empresa enfrenta um cenário desafiador, com a forte queda dos preços do petróleo em 2025 — quase 12% de recuo no ano — e o aumento dos investimentos previstos, o que pode comprometer a distribuição de dividendos. Além disso, riscos regulatórios, como questionamentos do Ibama sobre licenças ambientais, e a possível capitalização da Braskem pela Petrobras contribuem para o movimento negativo das ações.

Apesar da queda da petroleira, o destaque negativo da semana fica para a Ambipar, cujas ações despencaram mais de 60% na véspera desta sexta-feira (3) e alcançaram mínimas históricas. A forte desvalorização reflete problemas internos, como perdas em fundos de recebíveis, aumento nas provisões para calotes e a necessidade de uma captação bilionária para tentar conter a crise.

Já o destaque positivo vai para as ações da Cogna (COGN3). No acúmulo anual os papéis da companhia acumulam uma valorização impressionante de mais de 214% em 2025, impulsionadas por forte fluxo comprador e um reposicionamento estratégico dos investidores após atingirem a mínima do ano.

Radar corporativo

Ainda nesta semana, o Cade aprovou a venda da NSP Investimentos, que controla a Braskem, para um fundo ligado a Nelson Tanure, levando as ações da empresa a subirem mais de 5%.

A Americanas, em recuperação judicial, registrou alta após anunciar a venda da Uni.Co, dona de marcas como Imaginarium e Puket, por R$ 152,9 milhões, movimento que ajuda a fortalecer sua reestruturação financeira.

A Oi conseguiu na Justiça dos EUA a extinção do reconhecimento do Chapter 15, passo importante para o andamento de sua recuperação judicial no exterior. 

Atrasos e impasses movimentam o Legislativo

Ainda em Brasília, a semana foi marcada por atrasos estratégicos em votações-chave. A análise da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026, prevista para a última terça-feira (30), na Comissão Mista de Orçamento, foi adiada em meio a impasses sobre arrecadação, cortes e metas fiscais — especialmente após uma decisão do TCU que reacendeu o debate sobre o centro da meta. 

Já a medida provisória que trata da tributação de aplicações financeiras e ativos virtuais também sofreu novo revés. Como revelou com exclusividade o BP Money, o senador Renan Calheiros suspendeu a reunião que votaria o relatório final. Agora a MP corre o risco real de perder a validade, com prazo final marcado para 7 de outubro.

Resumo do Ibovespa em Setembro

O Ibovespa surfou uma onda positiva em setembro, que bateu sete recordes consecutivos e reacendeu a expectativa dos investidores em torno da marca dos 150 mil pontos.

No entanto, com a chegada de outubro, o índice principal da bolsa brasileira enfrentou um revés, refletindo os desafios e incertezas do cenário atual.

O Ibovespa recuou 1,08%, fechando aos 143.950 pontos, acumulando uma queda semanal de 1,03% e 1,56% no mês. Apesar desse momento de correção, o desempenho no ano permanece positivo, com uma valorização de 19,68%.