Mais uma crise

EUA vai sofrer apagão? Analista diz que colapso é questão de tempo

O setor de utilities entra neste novo ciclo em uma posição de fragilidade. Mesmo em anos de demanda estável, as concessionárias geraram fluxo de caixa livre negativo

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EUA / Foto: Freepik

A rede elétrica dos EUA caminha para o colapso à medida que a demanda aumenta e a falta de investimentos persiste. Além disso, segundo a Bernstein, a crescente participação das energias renováveis está levando o sistema ao limite.

A inflexão na demanda marca uma grande mudança, afirmou o analista Bob Brackett. Após dez anos de consumo estável, a Bernstein projeta um crescimento superior a 2% ao ano, enquanto os operadores regionais de transmissão estimam uma expansão entre 4% e 5%, em média ponderada.

Alguns planejadores de transmissão, no entanto, apontam para um possível crescimento acima de 20% em determinadas regiões, destacando que a visão da Bernstein é conservadora em comparação com outras previsões. “Os formuladores de políticas veem o que está por vir”, escreveu Brackett, citando a ameaça do governador da Pensilvânia de retirar o estado do PJM como evidência da crescente pressão, de acordo com o Investing.

Paralelamente, as empresas de hiperescala estão intensificando a competição por fornecimento de energia.

Aumento da demanda e pressão na rede elétrica dos EUA

Em seu relatório, a Bernstein destacou o registro da Meta para comercializar eletricidade, afirmando que a medida tem menos a ver com vender e mais com garantir energia suficiente para atender às necessidades futuras — o que adiciona mais uma camada de pressão sobre a rede.

O setor de utilities entra neste novo ciclo em uma posição de fragilidade. Mesmo em anos de demanda estável, as concessionárias geraram fluxo de caixa livre negativo de forma recorrente, cobrindo lacunas com endividamento para sustentar dividendos. A Bernstein estima que mais da metade dos investimentos em distribuição e transmissão será destinada apenas a “manter-se estável” — ou seja, projetos de substituição, fortalecimento e resiliência, em vez de verdadeira expansão.

Enquanto isso, os preços de eletricidade no varejo devem avançar. No momento, o gás natural está previsto para entrar em um superciclo e os custos de infraestrutura improváveis de serem reduzidos.

Diante desse cenário, a Bernstein prevê uma mudança de cerca de 10 centavos por quilowatt-hora para 15 centavos ou mais. O modelo da empresa aponta para margens em expansão à medida que a base de ativos regulados cresce, com as concessionárias já obtendo aproximadamente 16% de margens nas vendas de eletricidade no varejo em 2023, superior aos 12% de uma década atrás.

A Bernstein espera que os consumidores cada vez mais direcionem a culpa para longe do uso doméstico e em direção às “concessionárias, empresas de hiperescala e o governo” ao passo que os custos se elevem.

Contudo, os crescentes custos são somente uma parte do todo. A Bernstein alertou, em seu relatório, que a própria estabilidade da rede está em perigo. O aumento da dependência de geração renovável intermitente já sobrecarregou sistemas em outros lugares.

O apagão ibérico de 2025 destacou como a ausência de inércia suficiente pode gerar um colapso. Essa inércia se trada da força estabilizadora da geração baseada em vapor, como gás, carvão e nuclear.