
Em um telefonema revelado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (9), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu um convite do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, para ir a Washington e conversar pessoalmente a respeito das relações comerciais entre os dois países.
A conversa deu continuidade às tratativas entre Brasil e Estados Unidos iniciadas na ligação telefônica realizada entre os presidentes Lula e Donald Trump, na última segunda (6).
Segundo nota divulgada pelo Itamaraty, “após diálogo muito positivo sobre a agenda bilateral”, Rubio e Vieira acordaram que equipes de ambos os governos se reunirão em algum momento em data a ser definida.
“A reunião dará seguimento ao tratamento das questões econômico-comerciais entre os dois países, conforme definido pelos presidentes”, diz o comunicado.
Ainda de acordo com o Itamaraty, Marco Rubio convidou o chanceler brasileiro para integrar a delegação, “de modo a permitir uma reunião presencial entre ambos, para tratar dos temas prioritários da relação entre o Brasil e os Estados Unidos”.
Em entrevista a uma rádio da Bahia, Lula disse que a conversa entre seu chanceler e o chefe da diplomacia americana marca o começo de “um outro momento” nas negociações entre os dois países.
“O secretário de Estado Marco Rubio ligou para o meu ministro Mauro Vieira, talvez comece a ter conversa a partir de agora. Vamos ver se a gente consegue se acertar. O Brasil não quer briga com os EUA”, afirmou Lula.
Rubio designado como negociador por Trump
Na última segunda, Trump e Lula conversaram pela primeira vez, desde que os Estados Unidos anunciaram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em uma videoconferência de cerca de 30 minutos de duração, os presidentes tiveram “uma ótima conversa”, segundo Trump publicou em sua rede social, “em tom amistoso”, de acordo com nota enviada posteriormente pelo Palácio do Planalto.
No telefonema da última segunda, Lula pediu a Trump a retirada da tarifa de 40% imposta aos produtos brasileiros e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras, como a cassação de vistos e aplicação de sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O presidente brasileiro disse ter se surpreendido com a cordialidade de Trump na conversa.
“Ele me telefonou e eu estava na expectativa que teria muito discussão. Ele me ligou da forma mais gentil que um ser humano pode lidar com o outro, eu tratando ele de forma civilizada e ele me tratando de forma civilizada”, afirmou presidente a uma rádio da Bahia.
“Eu disse, ‘presidente, precisamos nos tratar sem liturgia, você me chama de você, eu chamo você de você. … Somos dois senhores de 80 anos, presidimos as duas maiores democracias do ocidente, e precisamos passar para o resto do mundo cordialidade, harmonia e não discórdia e briga”, completou
Na conversa entre Lula e Trump, Rubio foi designado para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Preocupação com caráter ideológico de Rubio
A indicação de Marco Rubio como possível líder das negociações com o Brasil vinha sendo vista como delicada por analistas e celebrada por aliados de Bolsonaro, que na última segunda buscaram minimizar a aproximação entre os dois países.
O empresário Paulo Figueiredo, aliado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, foi às redes sociais dizer que colocar Marco Rubio para negociar significa “zero de avanço”.
Figueiredo e Eduardo foram denunciados, no último dia 22, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por coação no curso de processo, por terem articulado sanções contra o país e autoridades brasileiras, numa tentativa de influenciar o resultado do julgamento de Jair Bolsonaro por golpe de Estado.
Em outra direção, analistas como Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional e Comparada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirmam que o aceno de Trump a Lula ainda na ONU obrigou os bolsonaristas a se reposicionarem porque desfez o mito sobre a direita ter monopólio de acesso ao governo Trump.
Marco Rubio tem sido um dos principais porta-vozes das sanções contra o Brasil. Além do tarifaço, também liderou ação de revogação de vistos de autoridades brasileiras em represália ao Programa Mais Médicos, que teve massiva participação de médicos cubanos durante o governo Dilma Rousseff.
Rubio nasceu em Miami em 1971, filho de pais cubanos que imigraram para os EUA sem dinheiro e sem falar uma palavra em inglês.
Ao ser nomeado por Trump, em novembro do ano passado, para ocupar o cargo de Secretário de Estado, Rubio tornou-se a pessoa de origem latino-americana com o cargo mais importante no governo dos Estados Unidos da história.
“Promoveremos a paz através da força”, disse Rubio na rede social X ao aceitar a nomeação de Trump para liderar a política externa do país.
Senador republicano, Rubio é conhecido por sua posição linha-dura a favor de Israel e contra Cuba, mas também contra China, Irã, Venezuela e a Nicarágua.
Quando Bolsonaro foi condenado pelo Supremo, no mês passado, Rubio prometeu uma “resposta à altura”.