Apesar de alta, a inflação brasileira continua estável, afirmam especialistas sobre o resultado do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Dado foi fortemente influenciado pelo aumento da energia elétrica.
O índice do mês de setembro, divulgado nesta quinta-feira (9) ficou em 0,48% – ligeiramente abaixo da estimativa do mercado (0,52%). Apesar da aceleração, especialistas analisam que o resultado já era esperado e não compromete a ancoragem da inflação.
“O resultado do IPCA de setembro confirma o que o mercado já antecipava: uma aceleração pontual da inflação, puxada principalmente pelo fim do bônus de Itaipu, que elevou as tarifas de energia elétrica, e pela descompressão dos preços de alimentos e automóveis”, explicou Pablo Spyer, conselheiro da ANCORD (Associação Nacional das Corretoras de Valores).
Na análise de Spyer, é importante destacar que os núcleos da inflação seguem “bem-comportados”, o que fortalece a perspectiva de que as pressões atuais são temporárias. “A expectativa é de desaceleração já em outubro, com a redução da bandeira tarifária de energia e a acomodação de preços administrados.”
Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados), também analisa que tudo aponta para um cenário de maior estabilidade inflacionária, “com a possibilidade do início do ciclo de redução da taxa básica de juros”.
“Mesmo com a alta observada no último mês, o Brasil mantém uma política monetária excessivamente contracionista, com uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Isso produz um impacto direto sobre os investimentos, sobre o poder de compra das famílias e sobre a economia como um todo.”
Para Queiroz, o atual cenário é um “freio de mão efetivamente puxado” para os investimentos. “Acabamos por perpetuar um ciclo de baixo investimento na economia e a redução estrutural do potencial de crescimento e desenvolvimento do país. É o caso do que puxou hoje a alta que está relacionada ao custo de energia. Só vai diminuir o custo de energia se houver mais investimento, mas com uma Selic a 15%, há um desestímulo ao investimento”, completou.
Pesos pesados
O “peso pesado do índice”, a energia elétrica, teve alta de 10% no mês de setembro. “Se não fosse energia elétrica, a gente estaria com o IPCA até próximo de zero”, afirmou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Segundo os especialistas, a alta está associada ao fim do bônus de Itaipu, que puxava para baixo as contas de energia elétrica dos brasileiros ligados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) que tiveram um consumo inferior a 350 kWh. Além disso, a ativação da bandeira tarifária vermelha no patamar 2, reflexo da falta de chuvas, também impactou para encarecer o índice.
“Mas, no geral, foi um bom índice, apesar do valor muito alto de 0,48%. Se a gente tirar a energia elétrica e olhar a parte de serviços, de núcleos e de difusão, acho que são três aberturas do índice que mostram um progresso no controle da inflação”.
Paralelamente, os alimentos e bebidas tiveram deflação de 0,6%. A alimentação em domicílio caiu 0,41% e também houve desaceleração na alimentação fora.
“A gente caminha no sentido de poder cortar juros no ano que vem. Acho que esse ano não muda nada, mas, eventualmente, para o ano que vem, é uma boa notícia do IPCA mais bem comportado, que deve ajudar o BC no trabalho dele”.