Na Dose G de hoje, os Almeidas conversam sobre um tema tão antigo quanto o próprio dinheiro: o que realmente preserva valor quando o mundo muda, o dólar oscila e os ciclos econômicos viram do avesso?
GB: A gente fala tanto em “reserva de valor” que virou quase um mantra. Mas, na prática, o que ainda funciona pra proteger patrimônio em 2025?
GA: Boa. Reserva de valor é o ativo que sobrevive ao tempo, aquele que mantém poder de compra quando o resto desaba. É o escudo contra inflação, governo e emoção.
GB: Então o ouro ainda é o rei?
GA: A discussão tá quente. Pra você ter ideia, o Bank of America sugeriu recentemente que o ouro pode mirar US$ 6.000 por onça, um rali que, segundo eles, ainda estaria longe do fim.
GB: US$ 6.000? Isso é uma pancada. O que isso sinalizaria pro mercado?
GA: Justamente. Historicamente, o ouro é o porto seguro em tempos de turbulência: guerras, crises, instabilidade política, inflação. Se realmente for nessa direção, o recado é claro: o investidor global está em modo defesa total.
Isso muda o jogo em vários pontos:
- Incerteza global: um dólar fraco somado a um ouro em alta é um alerta clássico de aversão a risco.
- Apetite por risco: setores como tecnologia e consumo perdem tração.
- Fluxo de capital: dinheiro sai das bolsas e vai pra ativos seguros.
Não é profecia, mas a simples menção a “US$ 6.000” já acende a luz amarela.
Agora, vale lembrar: o ouro continua símbolo de escassez e tradição, mas não é imune a juros. Em períodos como o atual, com inflação controlada e taxas reais lá em cima, ele perde parte do brilho. Protege, sim, mas sofre no curto prazo.
E o mercado moderno deu outra cara pra ele. Hoje, investir em ouro não é mais empilhar barras no cofre. É escolher entre o toque da segurança e a fluidez da eficiência.
Ouro Físico ou Ouro de Bolsa: o que muda?
1. Ouro físico – o valor que se toca
Comprar barras, joias ou moedas é ter o metal real em mãos, o clássico da reserva de valor.
Mas vem com custo e logística:
- Ágio e spread: casas especializadas cobram de 3% a 8% acima do preço spot.
- Custódia e seguro: de 0,5% a 1% ao ano.
- Liquidez: vender grandes volumes rapidamente é difícil.
Ideal pra quem busca independência total do sistema financeiro ou quer dormir tranquilo em cenários extremos.
2. Ouro de Bolsa – o valor que se move
Na B3, dá pra investir via:
- Contratos fracionários (OZ1D, OZ2D, OZ3D)
- ETFs lastreados, como o GOLD11, que replica a cotação internacional em dólar
Vantagens:
- Liquidez imediata (compra e venda a qualquer momento)
- Custódia segura e barata (feita pela B3 e custodiante do fundo)
- Taxas baixas (menos de 0,3% ao ano)
O ponto fraco? Você não pode “pegar o ouro”, e isso, pra muita gente, tira o romantismo da reserva tangível.
Qual faz mais sentido?
Perfil | Tipo de Ouro Ideal | Motivo |
Empresário que quer liquidez e praticidade | Ouro de Bolsa (ETF ou contrato B3) | Rende com o mercado e tem liquidez diária. |
Investidor que busca proteção fora do sistema | Ouro físico | Independência total, mas com custos maiores. |
Tesouraria corporativa para hedge cambial | ETF GOLD11 ou derivativo | Permite gestão profissional e integração com portfólio. |
Em resumo: o ouro físico é emoção e segurança tátil; o ouro financeiro é razão e eficiência.
GB: E o dólar? Sempre foi o abrigo global.
GA: Continua sendo o ativo de confiança do mundo. Mas 2025 virou o tabuleiro: dólar fraco, Fed parando de subir juros e emergentes pagando mais. O abrigo americano segue seguro, mas caro. E o Brasil, com CDI em 15%, voltou a atrair fluxo.
GB: E o “tijolo”? Brasileiro ama dizer que imóvel não quebra.
GA: É o clássico da cultura nacional. Mas trava liquidez e exige gestão. Em ciclos de juros altos, custa caro manter. Boa reserva de valor, desde que o investidor entenda que tijolo não paga boleto com velocidade.
GB: E o Bitcoin, entra nesse papo?
GA: Entra, sim. É o ouro digital da nova geração: escasso, descentralizado e sem dono. Mas falta tempo de estrada. Pode se consolidar como reserva de valor, mas ainda está sendo testado em campo aberto.
GB: E as ações defensivas, tipo elétricas e saneamento?
GA: Essas são a reserva de valor produtiva: geram caixa, pagam dividendos e acompanham o ciclo real da economia. Com queda de juros, voltam ao radar de quem quer proteção sem abrir mão de retorno.
GB: Então o que protege de verdade em 2025?
GA: Diversificação. O mundo vive juros altos, dólar fraco e tensão geopolítica, do Oriente Médio à China. Nenhum ativo é perfeito sozinho. O investidor inteligente mistura escassez, confiança e tempo: um pouco de ouro, dólar pra hedge cambial, ativos reais, renda fixa longa e, pra quem tem estômago, um toque de cripto.
GB: Então reserva de valor não é o que protege do presente, é o que sobrevive ao tempo.
GA: Exato. O investidor maduro não procura o ativo que mais sobe, mas o que mais sobrevive. Reserva de valor não é o que brilha, é o que resiste.
✍️ Por Gustavo Almeida e Gabriel de Almeida
Coluna Dose G — BP Money
Dose G é a sua injeção semanal de conhecimento financeiro, por Gabriel e Gustavo. Com uma linguagem leve e acessível e insights práticos.
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