Foto: Pixabay
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Entrar no supermercado para comprar arroz, feijão e frutas, e sair de lá com um empréstimo aprovado, ou uma conta digital ativa, pode soar inusitado. Mas essa é uma transformação silenciosa e profunda que já está redesenhando o varejo brasileiro. A convergência entre o consumo e os serviços financeiros não é mais uma aposta de futuro: é um movimento em curso, impulsionado por tecnologia, dados e um novo comportamento do consumidor.

A cena clássica da atendente oferecendo o “cartão da loja” evoluiu. Hoje, plataformas de Banking as a Service (BaaS), o avanço do open finance e o amadurecimento das fintechs estão permitindo que supermercados integrem serviços financeiros completos de pagamentos a crédito diretamente em suas operações.

Esse fenômeno tem um efeito duplo. De um lado, reduz a intermediação do sistema bancário tradicional, aproximando o consumidor das soluções financeiras e barateando o custo da operação dos supermercados, ofertando preços melhores e aproximando o consumidor dessas soluções financeiras. De outro, transforma o varejo em uma porta de entrada para o sistema financeiro, com potencial de ampliar a inclusão e gerar novas receitas para as redes.

Dados e confiança: os ativos do varejo

Poucos setores conhecem tão bem o comportamento do consumidor quanto o supermercadista. São milhões de interações diárias e uma base de dados valiosa, que revela hábitos, preferências e recorrências. Essa proximidade, somada à frequência de contato e à confiança construída ao longo do tempo, coloca o varejo em uma posição privilegiada para oferecer produtos financeiros de forma contextualizada e personalizada.

O resultado é uma nova lógica de fidelização. Em vez de apenas disputar preço e promoções, o supermercado pode fortalecer o relacionamento com o cliente oferecendo soluções financeiras convenientes, acessíveis e alinhadas ao seu perfil de consumo.

O consumidor já está pronto

Pesquisas recentes mostram que o público brasileiro está aberto a essa integração. Levantamento da Associação Brasileira de Banking as a Service (ABBAAS), em parceria com o Instituto Locomotiva, revelou que 85% dos entrevistados consideram os serviços de bancos digitais ou fintechs superiores aos dos bancos tradicionais.

Outro estudo, da Matera Insights com apoio do Instituto Qualibest, aponta que 70% dos brasileiros se sentem seguros ao contratar produtos financeiros por canais digitais, e 65% confiam em tomar decisões financeiras diretamente pelo celular. Esses números reforçam que a confiança digital já é uma realidade, e abre caminho para experiências financeiras integradas ao consumo cotidiano.

Um sistema financeiro em mutação

Os próprios bancos estão acompanhando o movimento. A Febraban estima que o setor financeiro investirá R$ 47,8 bilhões em tecnologia em 2025, com crescimento de 61% em IA e Big Data e 59% em migração para a nuvem. Hoje, 82% das transações bancárias já acontecem em canais digitais, 75% delas via mobile.

Ou seja: tanto instituições financeiras quanto consumidores estão, cada um a seu modo, acelerando a digitalização e abrindo espaço para modelos integrados.

Riscos e responsabilidades

A expansão do conceito de “supermercado que vira banco” traz oportunidades, mas também desafios significativos. Quando o varejo assume o papel de intermediário financeiro, surgem novas responsabilidades em relação à proteção de dados, transparência e segurança digital.

A regulação precisa acompanhar o ritmo da inovação, garantindo que a experiência seja vantajosa para o consumidor sem comprometer a integridade do sistema.

Uma revolução no consumo

O que antes parecia uma tendência distante já começa a se consolidar como um novo ecossistema de negócios. Supermercados, fintechs e bancos estão construindo, juntos, uma nova fronteira entre consumo e finanças: onde pagar, investir ou contratar crédito pode acontecer no mesmo lugar em que se compra o pão e o leite.

Para as empresas que souberem se adaptar, a recompensa será grande: novos fluxos de receita, clientes mais fiéis e uma presença ainda mais relevante no cotidiano do brasileiro. Para quem ignorar o movimento, o risco é claro, ficar para trás em uma das transformações mais profundas do varejo moderno.