
O tarifaço imposto pelo governo Donald Trump aos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos provocou a destruição de 15 mil empregos no setor industrial.
Foi o que revelou um estudo realizado por dois economistas do banco Inter, e revelado pelo jornal Valor Econômico nesta segunda-feira (3).
O estudo, conduzido pelo coordenador de pesquisa macroeconômica André Valério e pelo assistente de pesquisa Gustavo Menezes, constatou que os principais impactos da perda de empregos por conta do tarifaço se concentraram nas regiões Sul e Sudeste, especialmente em São Paulo, e na indústria de refino de açúcar.
“As evidências preliminares apontam para um impacto substancial e significativo do tarifaço no padrão de contratações para agosto e setembro, resultando na destruição de 15 mil empregos nesse período”, afirmam os economistas do banco Inter.
Valério e Menezes cruzaram dados de comércio exterior do país com os microdados do Caged (cadastro do governo federal para emprego com carteira assinada).
O modelo estatístico utilizado para formulação do estudo permitiu estimar os impactos da dependência comercial dos EUA na geração local de vagas para a indústria de transformação.
Os economistas constataram que as perdas se deram com maior ênfase em São Paulo e na área de refino de açúcar.
Impactos do tarifaço tiveram efeitos concentrados
Decompondo os efeitos das tarifas a nível estadual e setorial para a indústria de transformação, os pesquisadores observaram que os impactos foram bastante concentrados.
De todas as perdas empregatícias, 30% estão na indústria de alimentação, mais especificamente do refino de açúcar, atividade tipicamente aglutinada em São Paulo.
Segundo os economistas, o Estado de São Paulo reuniu pouco mais de um quarto de todos os empregos industriais perdidos até setembro.
“Resta saber como o setor reagirá nos próximos meses à queda de cerca de 80% nas exportações de açúcar do Brasil para os EUA que foi observada com o início do tarifaço”, afirmam Valério e Menezes.
Os resultados, dizem, também apontam para contratações abaixo do usual nos demais Estados e setores, com destaque para a perda estimada de cerca de 4.500 empregos na região Sul, onde diversas localidades são dependentes das indústrias de bens de capital cuja produção é quase inteiramente exportada aos EUA.
Reportagem do Valor há dois meses já havia mostrado que a economia do Sudeste seria a mais afetada pelo tarifaço americano, não fosse a ampla lista de isenções.
Já a região Sul, também uma das regiões mais impactadas pelas tarifas, foi menos contemplada pelas exceções abertas pelo governo norte-americano.
Abertura de diálogo pode atenuar novas perdas
Valério e Menezes afirmaram também que as tarifas parecem já ter atingido as principais pautas de exportação aos EUA atreladas a bens de capital.
Aeronaves, motores e máquinas elétricas registraram contração acima de 30% em agosto e setembro, ante o mesmo bimestre do ano anterior, observam.
“Na última PIM [pesquisa do IBGE sobre a produção industrial], setores que tiveram variação negativa foram justamente aqueles mais expostos aos EUA”, diz Valério.
Bens industriais têm mais dificuldade de adaptação nas cadeias comerciais do que commodities, por exemplo, por serem menos homogêneos, observam os economistas do Inter.
“Com a abertura do diálogo entre os dois governos [do Brasil e dos EUA], esperamos que esses danos sejam limitados, mas não podemos descartar efeitos prolongados devido à inércia inerente às relações econômicas”, concluem Valério e Menezes.
Apesar das perdas no setor industrial, os números de vagas de trabalho destruídas pelo tarifaço ficaram aquém das estimativas feitas por economistas e instituições no início do aumento das tarifas, em agosto.
Um estudo do BNDES divulgado em 21 de agosto, por exemplo, afirmava que o tarifaço sobre produtos que o Brasil exporta para os Estados Unidos poderia levar à destruição de 300 mil postos de trabalho no país.