
Com nove dias consecutivos de alta e após atingir os 150 mil pontos na véspera, o Ibovespa tem passado por um rali que vai além das últimas semanas. Segundo especialistas ouvidos pelo BP Money, a força dessa valorização vem, especialmente, das ações de bancos, da Petrobras (PETR4), da Vale (VALE3) e de grandes empresas de energia.
“Justamente os papéis que mais pesam no índice. Quando esses setores andam juntos, o Ibovespa responde rápido. Cabe ressaltar que só o setor de óleo e gás representa quase 20% do peso do índice”, comentou a economista Natale Papa.
O pensamento foi reforçado por Milene Dellatore, especialista em investimentos, day trader e diretora da MIDE Mesa Proprietária, que incluiu as elétricas entre os papéis que também sustentam o movimento.
“Mas há sinais de que o movimento está começando a se espalhar. Setores ligados ao mercado interno, como varejo, construção e consumo, estão ensaiando uma reação, apostando na melhora dos juros. O que o mercado está testando agora é se o rali é de carteira ampla ou só de meia dúzia de gigantes”, acrescentou Dellatore.
No cenário doméstico, fatores como juros em queda, inflação sob controle e um PIB (Produto Interno Bruto) acima do esperado têm contribuído para a alta.
Na frente fiscal, porém, o alerta segue ligado. “Se o governo voltar a gastar mais do que arrecada, a confiança vai embora e o risco-Brasil sobe — e quando o risco sobe, a Bolsa sente primeiro”, pontuou Dellatore.
Rali do IBOV: cenários de juros e a bolsa brasileira
Em relação aos juros, o mercado já precificou um corte mais agressivo da Selic (taxa básica de juros). “Se o BC mudar o tom ou se a inflação der sinais de volta, esse humor pode virar do dia para a noite”, disse a especialista. Nos Estados Unidos, caso o Fed (Federal Reserve) endureça o discurso ou adie o início dos cortes, o dinheiro tende a voltar para os títulos americanos, o que poderia inverter o fluxo estrangeiro que tem sustentado parte da alta na Bolsa brasileira.
Além disso, um real mais fraco ou um fluxo estrangeiro negativo podem reduzir o apetite dos investidores locais e internacionais.
No campo das commodities, qualquer desaceleração no crescimento chinês ou queda nos preços tende a impactar de forma imediata as companhias de maior peso no Ibovespa.
“A Bolsa brasileira passou anos sendo tratada como ‘mercado de desconto’, e agora o investidor começa a ver que há espaço para reprecificação”, afirmou Dellatore.
Desafios e perspectivas para o Brasil
Na avaliação das especialistas, o Brasil ainda enfrenta desafios como dívida elevada, política fiscal apertada e crescimento modesto, mas o cenário é mais favorável do que o precificado há um ano. “Parte dessa alta vem do simples fato de que o mercado parou de precificar o caos”, disse Dellatore.
Nesse contexto, os analistas apontam que o ciclo atual favorece quem sabe escolher boas empresas com dividendos consistentes. “Não é hora de correr atrás do hype, mas sim de estar posicionada em negócios sólidos, com caixa, governança e capacidade de gerar lucro mesmo se o cenário azedar”, concluiu Dellatore.
O ‘Segundo Escalão’ e a Recuperação Seletiva
Papa complementa que, no chamado “segundo escalão”, que inclui varejo, construção e educação, há também sinais de recuperação — ainda que de forma seletiva e dependente das expectativas de queda de juros. “Ou seja, não estamos vendo uma euforia generalizada, mas sim uma alta puxada por poucos líderes, não um bull market amplo em que tudo sobe”, finalizou a economista.