Foto: Vibra/Divulgação
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A queda de 90,3% no lucro líquido da Vibra Energia (VBBR3) não surpreendeu os operadores de mercado. Na véspera, a companhia divulgou seu balanço, apresentando lucro líquido de R$ 407 milhões no terceiro trimestre de 2025. O consenso entre analistas é que, apesar da contração expressiva, o resultado pode representar uma oportunidade para investidores.

“Em suma, a ‘queda’ do lucro líquido na base anual foi, em grande parte, um efeito de base distorcido. Os desafios reais foram operacionais em alguns segmentos, como o impacto do curtailment em Renováveis”, afirmou Renan Silva, professor de Economia do Ibmec Brasília, ao BP Money.

O economista acrescenta que a menor recuperação tributária, as perdas com investimentos na área de Distribuição, além do aumento de despesas e dos efeitos de hedge no B2B, também influenciaram o resultado.

Por outro lado, com uma visão mais otimista, Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, destaca que o operacional não “deixou a desejar”. “Tivemos R$ 4 bilhões no mesmo período de 2024 por conta de uma decisão tributária. Então, não era lucro recorrente.”

Ou seja, na perspectiva dele, quando o foco é o lucro recorrente, a companhia apresentou um “belíssimo resultado no terceiro trimestre de 2025”.

Por volta das 14h07 (horário de Brasília), as ações da companhia registravam alta 2,22%, sendo negociada a R$ 24,86.

Destrinchando o balanço da Vibra

Cenário

No período, a companhia ampliou as vendas de QAV (querosene de aviação) por meio de contratos de longo prazo, aumentando sua base de clientes e reforçando sua capilaridade no segmento.

Ao mesmo tempo, o papel sofreu com ruídos políticos envolvendo a possibilidade de a Petrobras (PETR4) retomar a distribuição de combustíveis. Em 17 de julho, VBBR3 chegou a recuar 2,22% após a divulgação, pela Bloomberg, de que a estatal avaliava retornar ao varejo.

“A empresa vem mostrando geração de caixa consistente e aumento nas vendas e contratos de QAV”, pontua Sant’Anna.

Além disso, houve recorde nas vendas de lubrificantes, que chegaram a 81 mil m³, alta de 13% em relação ao ano anterior.

“Se nos apegarmos à queda de 90%, sem entender que o fator não recorrente inflou o trimestre de 2024, a leitura da companhia fica distorcida”, reforça Silva.

Ele destaca que, para tomada de decisão — seja de compra ou venda — o ideal é observar o desempenho recorrente do negócio.

Entenda o que motivou a queda

A contração no lucro líquido ajustado da Vibra na comparação anual foi majoritariamente explicada pela ausência de eventos não recorrentes positivos registrados no 3T24, especialmente os relacionados à LC 194/22.

A lei, que classifica combustíveis, energia, comunicações e transporte público como essenciais, limitou a alíquota de ICMS sobre esses itens.

Desconsiderando o efeito de base, os pontos a observar, segundo Silva, são:

  • Efeitos Não Recorrentes e Hedge: O Ebitda ajustado consolidado caiu 9% na base anual, impactado por eventos extraordinários registrados no ano anterior e que não se repetiram. No segmento de Distribuição, a margem Ebitda Ajustada Recorrente recuou 7% YoY.
  • Segmento B2B: O Ebitda ajustado caiu 27% e a margem ajustada recorrente, 16%. Segundo a empresa, o resultado foi afetado por “impacto pontual negativo de maiores PCEs e efeitos de hedge na operação das tradings”. Apesar disso, o lucro bruto ajustado do B2B cresceu 5% na comparação anual.
  • Renováveis (Comerc): O Ebitda @Stake foi de R$ 238 milhões, afetado principalmente pelo curtailment e menor resultado da comercializadora devido à redução de risco.

O que os investidores precisam acompanhar

Gabriel Uarian, analista CNPI da Cultura Capital, afirma que a Comerc precisa entregar “pelo menos R$ 270 milhões de Ebitda no 4T para alcançar a guidance revisada de 2025 (R$ 1,05 a R$ 1,15 bilhão)”.

Qualquer desvio pode pressionar resultados e expectativas.

Entre os pontos de atenção citados:

  • Melhora de margens e volumes, apoiada pela Operação Carbono Oculto, que vem reduzindo distorções no mercado;
  • Manutenção da dívida líquida abaixo de 3x Ebitda;
  • Otimização logística para reforço de margens;
  • Aceleração das sinergias com a Comerc (meta de +10% a +15% no Ebitda do 4T);
  • Rollover da dívida para reduzir despesas financeiras.

No ambiente externo, o pricing da Petrobras, atualmente abaixo da paridade, e a situação macroeconômica tendem a ser determinantes: juros altos pressionam o endividamento, enquanto um PIB mais forte impulsiona demanda por combustíveis (+2% a +3% em volumes).