Foto: Reprodução Agência Brasil
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O BC (Banco Central) decidiu pausar o projeto do Drex, a versão digital do real. A iniciativa, anunciada como o próximo passo da digitalização financeira no país, buscava criar uma moeda digital oficial, emitida e controlada pelo próprio BC, para tornar operações mais seguras, baratas e automatizadas.

Na prática, o Drex não é uma criptomoeda, como o Bitcoin, mas uma CBDC (moeda digital de banco central), ou seja, uma representação eletrônica do real, com paridade total: 1 Drex valeria sempre R$ 1.

Segundo o planejador financeiro e especialista em investimentos Jeff Patzlaff, a proposta original visava “viabilizar negócios de maior complexidade, com garantia de execução simultânea das partes”.

“O Drex não foi criado para substituir o Pix, mas para permitir transações mais sofisticadas, como compra e venda de imóveis ou veículos, com segurança e automação total”, explica Patzlaff.

Contratos inteligentes e tokenização

Uma das inovações previstas no projeto era o uso de contratos inteligentes, que garantem que o pagamento e a entrega de um bem ocorram ao mesmo tempo.

“Se você compra um carro, o dinheiro e o documento digital do veículo ficam bloqueados até que ambas as partes cumpram suas obrigações. Se algo falhar, o sistema desfaz a operação automaticamente”, detalha o especialista.

O Drex também permitiria a tokenização de ativos reais, como imóveis, automóveis ou títulos financeiros, transformando-os em versões digitais que podem ser negociadas em frações.

“Isso democratiza o acesso a investimentos que antes eram restritos a grandes fortunas, abrindo espaço para que pequenos investidores participem de projetos maiores”, afirma Patzlaff.

Privacidade e custo travam o avanço

Apesar das promessas, o projeto Drex foi interrompido após o BC concluir que a infraestrutura usada nos testes, baseada na blockchain Hyperledger Besu, não atendia aos requisitos técnicos de privacidade, rastreabilidade e custo.

Segundo o Banco Central, o sistema precisava equilibrar dois princípios opostos: garantir o sigilo bancário dos usuários e, ao mesmo tempo, permitir o rastreamento de operações para coibir crimes financeiros, como lavagem de dinheiro.

“A tecnologia testada não conseguiu equilibrar esses pontos de forma eficiente”, explica Patzlaff.

Além disso, a solução se mostrou cara e lenta diante da escala do sistema financeiro brasileiro. Com isso, o BC decidiu desligar a plataforma e anunciou que uma nova infraestrutura será desenvolvida do zero, com foco em eficiência, integração e usabilidade.

Um possível recomeço mais pragmático

Para o especialista, a decisão não compromete a credibilidade do Drex, mas reflete um ajuste necessário. “O BC reconheceu que o problema não era apenas tecnológico, mas estrutural. Agora, o projeto pode seguir um caminho mais realista, alinhado à capacidade do país e às demandas do mercado”, avalia Patzlaff.

A próxima fase do Drex deve priorizar casos de uso práticos, deixando a escolha da tecnologia para um momento posterior. A ideia é integrar o sistema às plataformas já consolidadas, como o Pix e o Open Finance, criando um ecossistema digital mais coeso e interoperável.

Um novo passo para o futuro

Com a descontinuidade o Banco Central adota uma estratégia mais prudente e técnica. A expectativa é que haja um novo Drex que possa avançar de forma gradual, aproveitando a infraestrutura existente e corrigindo os erros do piloto.

“O Brasil já mostrou sua capacidade de inovação com o Pix. Se o Drex conseguir se conectar a esse ecossistema de maneira inteligente, ele pode ser tão transformador quanto foi o Pix”, conclui o especialista.