Foto: Reprodução Twitter
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Com apenas 37 anos, o empresário Chen Zhi é apontado como “o cérebro por trás de um extenso império de ciberfraudes, uma empresa criminosa construída sobre o sofrimento humano”.

De aparência jovem e discreta, o empresário acumulou uma fortuna gigantesca em pouco tempo.

Em outubro, o Departamento de Justiça dos EUA acusou Chen de comandar companhias no Camboja responsáveis por golpes que roubaram bilhões de dólares em criptomoedas de vítimas em todo o mundo.

O Tesouro americano confiscou cerca de US$ 14 bilhões (R$ 75,5 bilhões) em bitcoins ligados a ele, o maior bloqueio de criptoativos da história.

No site da Cambodian Prince Group, Chen Zhi é descrito como “empresário respeitado e renomado filantropo” cuja liderança teria transformado o grupo em “referência empresarial que segue padrões internacionais”.

Ascensão meteórica

Nascido na província chinesa de Fujian, Chen começou com uma pequena empresa de jogos online, que não prosperou. Mudou-se então para o Camboja, em 2010 ou 2011, e passou a atuar no setor imobiliário, impulsionado por uma explosão de investimentos chineses no país.

O boom transformou Phnom Penh, capital cambojana, em um canteiro de obras de arranha-céus e Sihanoukville, um pacato balneário, em um polo de cassinos e hotéis de luxo.

Em 2014, Chen se naturalizou cambojano, o que lhe permitiu comprar terras no país. Para isso, precisou investir ou doar ao governo ao menos US$ 250 mil (R$ 1,35 milhão). A origem do dinheiro nunca foi esclarecida.

Ao abrir uma conta na Ilha de Man, em 2019, ele alegou ter recebido US$ 2 milhões (R$ 10,8 milhões) de um tio, mas nunca apresentou provas.

Em 2015, fundou o Prince Group, inicialmente voltado a incorporações imobiliárias. Três anos depois, criou o Banco Prince, obteve um passaporte cipriota e, mais tarde, cidadania em Vanuatu, além de licenças para operar companhias aéreas no Camboja.

O grupo ergueu shoppings de luxo, hotéis cinco estrelas e anunciou um projeto bilionário, a “Baía das Luzes”, uma ecocidade avaliada em US$ 16 bilhões (R$ 86,3 bilhões).

Em 2020, Chen recebeu o título de Neak Oknha, concedido pelo rei do Camboja a grandes doadores (mínimo de US$ 500 mil).

Também se tornou assessor oficial de figuras poderosas como o então ministro do Interior, Sar Kheng, e o primeiro-ministro Hun Sen, além de seu filho e sucessor, Hun Manet.

O “filantropo” enigmático

Na imprensa local, Chen era tratado como benfeitor. Financiava bolsas de estudo e doações durante a pandemia de covid-19.
Reservado, raramente falava em público.

“Todos que trabalharam com ele o descrevem como gentil, tranquilo e comedido”, diz o jornalista Jack Adamovic Davies, autor de uma investigação de três anos sobre o empresário.

“Ele foi esperto em evitar os holofotes. Mesmo quem rompeu relações ainda se impressiona com seu carisma discreto”, afirma.

A queda: “longa lista de crimes transnacionais”

O cenário começou a mudar em 2019, quando a bolha imobiliária em Sihanoukville estourou.

A proibição dos cassinos online, sob pressão da China, levou à fuga de cerca de 450 mil chineses e deixou prédios do Grupo Prince vazios.

Ainda assim, Chen expandiu seus negócios. Autoridades britânicas afirmam que ele comprou uma mansão de £12 milhões (R$ 85 milhões) e um edifício de escritórios de £95 milhões (R$ 671 milhões) em Londres.

Os EUA dizem que ele e seus associados adquiriram imóveis em Nova York, jatos privados, superiates e até um quadro de Picasso.

Segundo os americanos, a fortuna de Chen vinha do negócio mais lucrativo da Ásia hoje: fraudes online combinadas a tráfico de pessoas e lavagem de dinheiro.

Os EUA e o Reino Unido impuseram sanções a 128 empresas e 17 pessoas ligadas ao Grupo Prince, congelando seus bens em ambos os países.

As investigações descrevem uma rede de empresas-fantasma e carteiras de criptomoedas usadas para ocultar a origem dos recursos.

Documentos oficiais apontam que o grupo lucrava com sextorsão, corrupção, jogos ilegais, tráfico e tortura de trabalhadores escravizados, forçados a operar “fazendas de celulares” dedicadas a golpes virtuais em larga escala.

O desaparecimento

Desde o anúncio das sanções, Chen Zhi não foi mais visto.

O magnata, que chegou ao topo do poder político e econômico do Camboja, desapareceu, deixando para trás um império ruído sob o peso de acusações de fraude, escravidão e corrupção em escala global.