
O preço pago pela indústria pela laranja no mercado brasileiro recuou no início de novembro, segundo análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), de Piracicaba (SP).
A queda ocorre em meio à desaceleração da demanda externa e ao aumento da oferta da fruta para processamento.
De acordo com o Cepea, a caixa de 40,8 quilos, que vinha sendo negociada por cerca de R$ 50, passou a valer em torno de R$ 45 “na árvore” na primeira semana do mês.
“A pressão vem da demanda externa mais lenta, associada à maior oferta de fruta para processamento”, apontam os pesquisadores do centro.
Exportações em queda
Entre julho e outubro de 2025, as exportações brasileiras de suco de laranja somaram 283,2 mil toneladas em equivalente concentrado, queda de 7,1% em relação ao mesmo período da safra anterior. A receita com os embarques recuou cerca de 15%, segundo o Cepea.
De acordo com dados da Comex Stat, o volume de suco exportado entre julho e setembro foi de 199,7 mil toneladas, retração de 4% na comparação anual. A receita totalizou US$ 751,3 milhões, 15% a menos que no mesmo período de 2024.
“A retração no montante recebido reflete o enfraquecimento dos preços internacionais, diante da ampliação da oferta global e do comportamento mais cauteloso dos compradores, sobretudo os europeus”, destaca o Cepea.
Mudança nos destinos
Mesmo com a queda nas exportações totais, houve alteração na distribuição dos destinos. EUA e União Europeia tiveram participações semelhantes nos embarques, cerca de 48% cada.
O Cepea aponta que as vendas para o mercado norte-americano cresceram 13%, mesmo com a manutenção de uma tarifa residual de 10%, enquanto a Europa reduziu as compras em 8%, pressionada por demanda mais fraca após uma safra anterior marcada por altos preços e problemas de qualidade.
“O avanço nas vendas aos EUA evidencia a elevada dependência do mercado americano do suco brasileiro”, afirma o centro.
Efeito das tarifas
O Cepea ressalta que apenas o suco de laranja foi isento da sobretaxa de 40% imposta pelos EUA, mas produtos derivados, como óleos e farelos, continuam sujeitos a tarifas de até 50%.
“Apenas o suco de laranja, mas não seus subprodutos, foi isento da sobretaxa de 40%, permanecendo sujeito à tarifa de 10% acrescida da taxa fixa de US$ 415 por tonelada”, detalha o boletim.
Diante desse cenário, o centro defende acordos bilaterais que assegurem a competitividade do setor.
“Entre resiliência e prudência, o setor exportador entra em nova fase: menos euforia, mais estratégia. O futuro dependerá da inovação e da conquista de mercados em um ambiente de margens estreitas”, conclui a análise.
Safra anterior e perspectivas
Na safra 2024/25, encerrada em junho deste ano, o volume exportado foi o menor em quase 30 anos, mas a receita bateu recorde, US$ 3,48 bilhões, alta de 28,4% frente à anterior.
Apesar do bom resultado financeiro, agentes do mercado demonstram preocupação com o impacto das tarifas norte-americanas sobre o desempenho futuro.
“Permanece incerta a magnitude dos efeitos de um possível aumento tarifário para até 50% sobre o suco de laranja, especialmente diante da perspectiva de maior produção nacional nas próximas temporadas”, alerta o Cepea.
Ainda assim, o acúmulo de divisas com as exportações garantiu ao setor uma capitalização importante para enfrentar os próximos desafios.
Doenças e clima desafiam produtores
Além das oscilações de preços e das tarifas, os citricultores enfrentam dificuldades com o greening, bactéria que afeta folhas e flores e reduz a produtividade das plantas.
“A doença é transmitida por um inseto vetor, o psilídeo, e é justamente nas regiões de Limeira, Avaré e Bebedouro onde há maior incidência”, explica Guilherme Rodriguez, supervisor de projetos do Fundecitrus.
Segundo ele, o aumento das temperaturas e o estresse hídrico também contribuem para uma safra mais desafiadora.